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Talvez você leitor ainda não saiba, mas na academia brasileira poucos livros são mais aclamados do que “Chutando a Escada” do sul-coreano Ha-Joon Chang. Em bem de verdade o livro alcançou fama internacional e tornou Chang famoso no mundo econômico e na chamada imprensa especializada.

A tese do livro é relativamente simples. Segundo Chang, os países que cresceram no comércio internacional (e hoje são desenvolvidos) o fizeram com forte política protecionista. No entanto, segundo Chang, na hora de alcançar a escada para aquelas nações que querem se desenvolver, os países ricos simplesmente “chutam a escada” e passam a pregar o oposto do que fizeram, ou seja, um conveniente liberalismo econômico.

A tese do livro é que isso beneficia os países ricos pois lhes dá vantagens nos termos de troca e, portanto, enriquece-os às custas dos países subdesenvolvidos ou pobres.

A proposta de Chang então é bem simples. Os países hoje em desenvolvimento (ou pobres) devem seguir a mesma lógica, ou seja, proteger suas indústrias, copiando, de certa forma, a “receita” de crescimento dos países que hoje já estão ricos.

Chang tem razão quando observa que as grandes potencias mundiais de hoje (nos primórdios do capitalismo) protegeram suas indústrias infantes para acumular riqueza e crescer. O que o coreano ignora é o momento econômico em que isso foi feito.

No primeiro século de desenvolvimento na produção capitalista acumular riqueza era para poucos, haja visto, o forte nível de escassez ainda presente na riqueza gerada. Assim, naquela época, era inviável você crescer apenas com livre mobilidade de capitais, afinal, não existia capital abundante para todo mundo. Pode-se dizer que naquela época numa relação bilateral de comércio entre países o jogo era de “quase” soma zero. Para eu ter forte acumulação de capital o outro tinha que perder capital.

Essa condição graças a forte mecanização, automação econômica e o ascendente aumento da produtividade já não é mais realidade. As multinacionais da metade do século XX e a realidade atual das cadeias globais de produção geraram uma forte acumulação de capital e isso propiciou às economias do mundo todo mudarem o padrão comercial de soma zero no mercado internacional.

Portanto, a proposta de Chang – nos dias de hoje –, é tão obsoleta quanto a máquina de tear. No entanto, aparentemente, o Brasil não pensa assim. Não basta sermos a economia mais fechada entre os países do G20, por exemplo. Temos ainda que perder dois grandes acordos de livre comércio no mercado internacional.

Que o mundo pouco se importa para o que produzimos não é novidade. O Brasil participa de míseros 1,3% do mercado mundial com nossos produtos. O que espanta é nós acharmos que não precisamos do mundo para sermos eficientes e enriquecer.

O que espanta é o Brasil achar que uma moeda fortemente desvalorizada e que, portanto, não tem grande poder de compra pode nos tornar competitivos no mercado internacional. O que impressiona é o Brasil ignorar as suas vantagens comparativas e achar que pode proteger (ainda) mais e como mágica (sem processo de competição) se tornar dinâmico e eficiente.

O que entristece é ver uma população com baixo poder aquisitivo não ter uma moeda forte para comprar e ainda enfrentar escassez interna devido ao incentivo que os exportadores obtêm em vender suas mercadorias ao mundo (recebendo em dólar) em relação ao mercado brasileiro.

O modelo de crescimento brasileiro é revoltante. Não bastam tarifas e proteção. Não basta o Real se desvalorizar perante a imensa maioria de moedas do mundo. Ainda temos que encontrar economistas de Campinas e livros de sul-coreanos que nos dizem que isso tudo vai nos fazer subir a escada. Vai fazer o país decolar.

Eu diria que o mundo essa semana ofereceu a escada para o Brasil subir e os país escolheu (mais uma vez) dar um pontapé nela. Com esse modelo estamos condenados ao ostracismo produtivo e à mediocridade econômica.

Viva o computador da positivo! Viva a televisão da CCE!


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