É senso comum na sociedade pós-moderna que a virtude do mal e de toda a sofridão terrena que nos é imposta é fruto de indivíduos gananciosos e egoístas que pensam apenas em si mesmos e não no coletivo. É senso comum também que se encontrarmos maneiras de controlá-los, a sociedade melhorará visto que o pensamento comunitário é que levará a humanidade ao progresso.
Em primeiro lugar há uma confusão em torno dos termos utilizados. O egoísmo, em sua definição, significa “dar ênfase aos desejos e valores individuais em primeiro lugar”. Isso não necessariamente significa impor desejos e valores em detrimento de terceiros. Nessa grande confusão que se criou, os indivíduos hoje confundem egoísmo com trapaça. Se pensarmos somente na definição bruta do termo, o egoísta não necessariamente é um trapaceiro, até porque o altruísta (o contrário do egoísta) também não está livre da trapaça. A verdade é que o egoísmo é o motor das melhorias da sociedade: são nossos desejos e anseios pessoais que nos levam a desenvolver tecnologias, projetos e empreendimentos que possibilitam um amanhã melhor. Como disse Ayn Rand em sua coleção de ensaios “A Virtude do Egoísmo”, publicada em 1964:
“O mecanismo prazer-dor no corpo de um homem – e nos corpos de todos os organismos vivos que possuem a faculdade da consciência – serve como um guardião automático da vida do organismo. A sensação física de prazer é um sinal indicando que o organismo está perseguindo o curso certo de ação.”
Quando um médico realiza uma cirurgia complexa em um paciente que sofre de grave doença, interessa ao operado se ele fez a cirurgia por amor ao próximo ou a si mesmo? Não, visto que o relevante é o resultado da cirurgia: a melhoria da condição da sua saúde. Ou então quando um acadêmico de Medicina frente ao fim da faculdade, decide o seu caminho de residência, este o faz baseado no que lhe fará mais feliz, em qual lhe trará mais satisfação pessoal e/ou financeira e, ainda assim, ao decidir seu caminho, estará salvando diversas vidas. Nesse caso, importa o motivo que o levou a escolher sua residência? Tal qual resumiu Adam Smith em seu clássico “A Riqueza das Nações”:
“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas da vantagens que eles podem obter.”
Outro ponto a ser considerado é que o egoísmo não necessariamente é mesquinharia. Talvez os indivíduos, ao colaborarem com a construção de hospitais nas periferias ou ao doarem alimentos e mantimentos próximos ao Natal, estejam eivados de egoísmo, fazendo tais contribuições apenas em busca de um benefício próprio. Lhes pergunto: mesmo assim, ele não está contribuindo para que estes indivíduos tenham uma melhora sensível na sua qualidade de vida? Importa o por que dele ter feito tal caridade? Seus objetivos deslegitimam os atos caridosos e samaritanos que ele realizou? Na realidade, mesmo o altruísmo é uma expressão de egoísmo, visto que mesmo quando indivíduos realizam boas ações sem intenções ocultas, só o fazem porque fazer o bem lhes causa prazer e satisfação.
A verdade é que a crítica ao egoísmo (ou ao “autointeresse”) é infundada, baseada em um falso pressuposto de que priorizar os próprios interesses e desejos é imoral, quando na verdade são estes que servem de motor para as melhorais da sociedade: são eles que nos impulsionam a produzir mais, produzir melhor e construir um amanhã mais próspero e inclusivo. A verdade é que as palavras do icônico personagem Gordon Gekko no filme Wall Street estão corretas:
“Greed – for lack of a better world – is good. Greed is right. Greed works. Greed clarifies, cuts through and captures the essence of the evolutionary spirit. Greed, in all if its forms – greed for life, for money, for love, knowledge – has marked the upward of mankind.”