refugiados
Na primeira parte desse artigo – Adelante, refugiados – será contextualizada a situação política e migratória internacional. Após, um breve relato do histórico da imigração brasileira será feito, a fim de dar embasamento para a defesa da livre-imigração na Parte II.
Graduado em Administração (UNIFRA) e Relações Internacionais (UFSM). Hoje é aluno do MBA em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e atua como investidor no mercado de capitais brasileiro.
Atualmente, vive-se um período no qual a tão comentada polarização política atingiu níveis até então nunca vistos no cenário mundial. Se não em termos de radicalismos ideológicos, ao menos nas eloquentes defesas de supostos problemas sociais ou econômicos e suas respectivas soluções. Dessa forma, é possível notar o fortalecimento de um conservadorismo “alt-right” que defende, cada vez mais, o fechamento das fronteiras. Aparentemente, esses conservadores agem como se a culpa dos problemas econômicos de seus países, hoje maquiados através das expansões monetárias que tomaram o globo após a Crise de 2008, fossem parcial ou totalmente culpa dos estrangeiros.
Donald J. Trump, o atual presidente dos Estados Unidos – que já foi democrata, independente e republicano – caracterizou-se como o maior expoente da nova onda conservadora que repudia a mídia, a livre-imigração e o livre-comércio. Por outro lado, é sabido que a política de bem-estar social proporciona excelentes qualidades de vida aos americanos – muito melhores, por exemplo, do que a dos vizinhos latinos. Sabe-se, também, que Trump é um dos mais ferrenhos doutrinadores do lema “A América para os americanos”. Mas, afinal, quem são os americanos? O próprio avô de Donald Trump nasceu no Reino da Bavária, tendo imigrado para os EUA em busca de um futuro melhor. Para o presidente, então, seu avô seria um americano?
No Brasil, a questão migratória dos refugiados não é tão dramática. O país, afinal, vive uma profunda instabilidade política e econômica que, evidentemente, não é atrativa para os imigrantes.
Em território brasileiro, o principal fluxo imigratório são dos refugiados venezuelanos, atormentados por um governo ditatorial, socialista e sanguinário. O governo venezuelano, como toda e qualquer ditadura, proporcionou a socialização da miséria: mortes, fome e pobreza que foram disseminadas à todas as classes sociais.
Voltando à temática, o percentual de imigrantes já ultrapassou 10% da população no estado de Roraima. Entretanto, ao comparar esse número com população nacional, os refugiados configuram pouco mais de 0,02%. Mesmo assim, as imigrações causaram reações hiperbólicas nas cidades fronteiriças, a exemplo de brasileiros que hostilizaram refugiados que cantavam o hino do Brasil. Em um país marcado pela miscigenação cultural, racial e diferentes fluxos migratórios, tal brutalidade torna-se ainda mais peculiar.
O Brasil é um país majoritariamente formado por refugiados. Costumeiramente, fala-se que a sociedade brasileira é composta pela miscigenação de imigrantes que buscavam melhores qualidades de vida. Entretanto, tal dito não passa de uma versão incompleta da história. A grande verdade é que a fome, as pragas e as guerras de unificação dominaram as causas das imigrações para o Brasil. Como consequência, um grande número de famílias cruzou o Atlântico rumo ao Novo Mundo. Os imigrantes, majoritariamente oriundos das classes mais baixas e rurais, refugiaram-se nessas terras em busca de um futuro mais próspero.
Ângelo Trento, autor do livro “Do outro lado do Atlântico”, aponta que a imigração de italianos foi consideravelmente reduzida a partir de 1886, quando um cenário de crise instalou-se no Brasil. Naquele período, os preços das sacas de café foram progressivamente reduzidas. Esse processo desencadeou um desequilíbrio econômico na sociedade brasileira, que tornou o país um centro menos atrativo.
Naquele tempo, a Europa atingiu o ápice de sua supremacia sobre o resto do mundo. Isso impulsionou que os governos incentivassem as emigrações de europeus para outros continentes, justificadas como forma de “higienizar” o sangue dos povos locais – compostos pela miscigenação entre negros e índios. José Bonifácio, escritor e sociólogo, opinava que a escravidão representava grande parte dos problemas no Brasil, pois considerava os negros como indignos e preguiçosos [8].
Entretanto, os especialistas em migrações italianas e alemãs apontam que, curiosamente, as condições das primeiras colônias europeias fundadas no Brasil não apresentavam condições melhores do que as comunidades locais, que formavam a “baixa” sociedade brasileira. Trento cita, ainda, que a maior parte dos imigrantes italianos “chegou pobre e pobre permaneceu”. Esta situação foi, na maioria dos casos, justificada pelos problemas sociais brasileiros, tal como a falta de higiene nos espaços urbanos.
A situação foi comprovada em 1902. O governo italiano promulgou o Decreto Prinetti, que terminou com os subsídios aos italianos que procuravam migrar para o Brasil, justificado pelas péssimas condições de vida oferecidas no país. Antes do decreto, os imigrantes – pobres e sem condições – dependiam do auxílio governamental para o processo de imigração.
No Brasil, inicialmente, a chegada de estrangeiros eram dinâmicas e necessárias pela carência de mão de obra. Posteriormente, todavia, com o fim dos recursos governamentais as comunidades viviam em unidades familiares praticamente auto-suficientes, que não produziam em escala comercial relevante. Ademais, destaca-se que a camada social que migrava para o Brasil – fugindo da fome, das prisões, das perseguições religiosas e dos altos impostos – era, majoritariamente, pouco instruída. Eram, portanto, considerados ou como trabalhadores para os grandes fazendeiros, ou como alternativa à ocupação do território brasileiro.
Além disso, sabe-se que a imigração viveu uma queda significativa ao final dos anos 30, quando o Governo Vargas instaurou o Estado Novo e o início de uma postura ultra-nacionalista. A partir daí, ao fechar as fronteiras e elevar as barreiras, os níveis de participação brasileira nos fluxos migratórios e comerciais foram drasticamente reduzidos. Indubitavelmente, Vargas foi o precursor de um estado forte e interventor que hoje assola o país. Também, foi responsável pelo estabelecimento de uma cultura única que quase suprimiu as tradições e os costumes estrangeiros.
Posto isso, percebe-se que a formação histórica da população brasileira está intrinsecamente ligada à miscigenação de povos tão distintos e desconexos, mas de personalidades complementares. Desse modo, a união entre refugiados e nativos formou um país com características migrantes. Como, então, é possível acreditar que a defesa da pátria brasileira se dará pela preservação da homogeneidade população?
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