Não é incomum que obras ficcionais reflitam aspectos da realidade. É fácil encontrar motivações ideológicas por trás de filmes, séries livros e até desenhos, principalmente para pessoas engajadas politicamente. É ainda mais fácil quando tais motivações são tão claras, como no filme “V de Vingança”.
O filme de 2005, dirigido por James McTeigue e estrelado por Natalie Portman ( a Padmé de Star Wars) e Hugo Weaving (o Caveira Vermelha do UCM), é baseado nas HQs publicadas nos anos 80, de autoria de Alan Moore e com ilustrações de David Lloyd. Ela foi trazida ao Brasil pela primeira vez em 1989 pela “Vertigo”, editora da DC Comics conhecida por publicar títulos como Sandman, Hellblazer e Fables, com temas mais maduros que os comumente abordados pelas histórias da “DC”.
A trama se passa em um futuro distópico, onde um regime fascista toma conta do Reino Unido. A personagem de Natalie Portman, Evey é uma jovem moradora de londres, cuja mãe morreu quando ela ainda era pequena, durante a guerra nuclear, e o pai foi perseguido e assassinado pelo “Partido do Fogo Nórdico”, a instituição por trás do regime ditatorial britânico.
Evey trabalha na “BTC” (British Television Network), emissora de televisão controlada pelo governo, onde é transmitido o programa “A voz de Londres”, apresentado pelo personagem Lewis Prothero, um ex-comandante do Partido. Durante o filme, a BTC é usada recorrentemente para distorcer notícias e assim manipular a opinião da população.
Hugo Weaving interpreta “V”, um homem misterioso com um passado obscuro, que mantém sua identidade em segredo usando uma máscara inspirada em Guy Fawkes, uma figura histórica real que tentou (sem sucesso), explodir a Câmara dos Lordes do parlamento inglês no dia 5 de novembro 1605, em uma tentativa de assassinar o rei Jaime I. Motivado pela história de Fawkes, V, tem como objetivo derrubar o regime do Partido do Fogo Nórdico por meio de várias ações revolucionárias que teriam como seu “Grand Finale”, justamente a explosão da casa do parlamento, em um dia 5 de novembro.
Os dois protagonistas se conhecem quando Evey está vagando pelas ruas depois do toque de recolher e é abordada por dois “Fingermen”, uma espécie de policiais secretos. Os homens tentam abusar sexualmente de Evey, mas são interrompidos quando V os confronta. Com facilidade e destreza, V mata os policiais, resgatando Evey e então a levando para seu esconderijo, dando início aos acontecimentos do filme.
Apesar de V de Vingança claramente não ser uma obra liberal ou libertária, há muito que podemos aproveitar da trama, sobre como regimes autoritários tentam reescrever a história, como um Estado inchado corrompe e traz a tona o pior nas pessoas, e principalmente, como um revolucionário pode acabar cometendo atos tão absurdos como aqueles contra quem ele se revolta, em nome da sua própria causa. Estes e outros pontos são discutidos por mim e meus colegas no episódio piloto do “Liberalizando”, um podcast que tem como objetivo analisar a Cultura Pop sob o ponto de vista da liberdade.
Recomendo que o leitor assista V de Vingança e tire suas próprias conclusões, para assim, aproveitar ainda mais o nosso episódio de estreia. Para finalizar esta breve resenha, deixo uma de minhas frases favoritas do filme:
“Roubo implica propriedade, e não se pode roubar do governo. Digamos que tomei o que era nosso” – V.