No âmbito das ciências sociais provavelmente nada gerou maior revolução mental e ideológica do que a teoria da formação e exploração do capital perante o trabalhador, originalmente proposta por Karl Marx.
Atualmente nas Ciências Econômicas – a despeito das demais ciências sociais – as proposições ditas marxistas não prosperam mais com tanta força por dois motivos. Primeiro, porque a proposição de Marx de que o capitalismo ruiria internamente através da queda nas taxas de lucros oriunda da superprodução do capitalismo e do aumento incessante da mais valia relativa extraída pelo capitalista perante o trabalhador, simplesmente não ocorreu. Pelo contrário, o capitalismo felizmente não só se estabeleceu como sistema sócio/econômico como prosperou e distribuiu riqueza e renda a despeito de todas as bobagens feitas pelo intervencionismo estatal nos últimos séculos que o impediram de realmente funcionar em sua plenitude e eficiência (o que, deixemos claro, não significa perfeição).
O segundo motivo advém do fato de que o estudo teórico do que propôs Marx simplesmente se revela falacioso em seu âmago. Da falsa dicotomia de classes que trata as pessoas como mentecaptas que apenas reproduzem o desejo de um grupo, para a sua teoria do valor e da exploração, ou seja, para a falaciosa teoria do valor trabalho refutada pela teoria da utilidade marginal decrescente. Mas esse não é o escopo aqui, vamos a ele.
Quando Eugen von Böhm-Bawerk desmascarou a teoria da exploração do socialismo-comunismo ele o fez percebendo que a Marx não incorporou a sua teoria a questão da escolha intertemporal, ou seja, o fato de que o processo de mercado ocorre no tempo real, assim sendo, o processo de oferta e demanda não ocorre ao mesmo tempo. Isso permitiu ao austríaco identificar a possibilidade de desequilíbrios entre aqueles que queriam vender com aqueles que desejavam comprar. Se isto ocorre, o componente de incerteza nos mercado é inerente para aquele que deseja vender algo, pois ele não sabe quando conseguirá vender (e se conseguirá vender).
Logo, para Böhm-Bawerk era mais do que natural que o capitalista pagasse um pouco a menos ao trabalhador pelo serviço prestado na produção de uma determinada mercadoria, haja visto, que esse capitalista não sabe se no futuro sua mercadoria será vendida. Logo, o lucro (quando ocorre) é o prêmio pela incerteza e o incentivo aos capitalistas para continuar produzindo e arriscando seu capital acumulado.
Marx além de não perceber tal descoordenação temporal entre oferta e demanda, omitiu que a mercadoria pode não encontrar demanda no futuro, o que explica o fato dos capitalistas utilizarem uma margem de lucro para remunerar o componente de incerteza inerente aos mercados capitalistas. Tal omissão ocorre quando Marx admite que a mercadoria possa, em suas palavras, não se realizar como valor.
Assim sendo, Marx percebeu que o capitalista incorre em riscos o que torna absolutamente justo que ele seja remunerado por este. No entanto, o defensor dos proletários preferiu ignorar o tratamento do tempo a sua teoria afirmando que a mercadoria começa a não se realizar como valor somente após a superexploração do trabalho através da mais valia relativa. Isso geraria superproduções e a falta de demanda por mercadorias, ocasionando a queda nas taxas de lucros e o fim do capitalismo. Ou seja, para Marx a culpa da falta de demanda por todas as mercadorias seria fruto da ganância incessante dos capitalistas, levando-o a sua destruição.
O que Marx convenientemente ignorou é que essa não realização de valor pela mercadoria (leia-se falta de demanda pela mercadoria) não ocorre somente após a superexploração da mais valia e, sim o tempo todo, o que destroça qualquer argumento de que a mais valia (se é que existe) é injusta. Isso nos mostra que a verdade teórica está ao contrário do que Marx afirmava. É a mais valia que incentivou (e incentiva) os empresários a continuarem se expondo a incerteza e os riscos de produzir. É a mais valia que empregou pessoas mesmo em períodos em que a população aumentou sete vezes num período de 50 anos (como ocorrido no Reino Unido).
Logo, não fosse a mais valia teríamos indigentes passando fome e morrendo nas ruas como no século XIX. A mais valia propiciou sua inserção em um insalubre mercado de trabalho que nas condições da época apresentava-se como a melhor opção.
Assim sendo, se você leitor quer gerar riqueza, progresso, prosperidade e distribuir renda para os mais pobres, defenda a mais valia. Defenda os lucros e lute pela manutenção e crescimento do capitalismo livre, sem intervenções. É esse sistema que melhor propicia a formação de poupança, produção e distribuição de toda a riqueza gerada por nós. Marx sabia disso, não tenho dúvidas! E se os marxistas o tivessem lido, também saberiam. Não se prestando ao constrangimento de criticar justamente o sistema que permitiu que hoje tais pessoas existissem para, ironicamente, tanto criticá-lo. Como bem ressaltou Mises em 1958:
[se] no tocante a esta questão, qualquer homem de qualquer país do mundo, afirmar hoje aos seus amigos ser contrário ao capitalismo, há uma esplêndida contestação a lhe fazer: “Sabe que a população deste planeta é hoje dez vezes maior que nos períodos precedentes ao capitalismo? Sabe que todos os homens usufruem hoje um padrão de vida mais elevado que o de seus ancestrais antes do advento do capitalismo? E como você pode ter certeza de que, se não fosse o capitalismo, você estaria integrando a décima parte da população sobrevivente? Sua mera existência é uma prova do êxito do capitalismo, seja qual for o valor que você atribui a própria vida.”
Pensemos nisso! E lutemos por um capitalismo livre. Abrindo os olhos daqueles que ainda não perceberam que aquilo que eles mais atacam é justamente o responsável pela vida que lhes foi destinada e pelo conforto que lhes foi ofertado.
Marx, nesse sentido, prestou um desserviço à humanidade e cabe a nós liberais alertarmos para que suas teorias não prosperem e continuem a dominar os corações e as mentes dos mais ingênuos e incautos.
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Felipe Rosa é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento (PPGE&D) da UFSM. Escreve todas as quintas para o site do Clube Farroupilha.
As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.