Uma explicação de porque todo libertário precisa ler a obra japonesa de Echiro Oda
Escrito por: Eugênio Pozzobon Revisado por: Antônio Carlos de Almeida Pinto
viso: Este artigo conterá algumas informações que podem ser consideradas spoiler, mas que fazem parte da construção do mundo de One Piece e não estragarão sua experiência futura de leitura da obra. Se você não sabe nada sobre a obra, não se preocupe, explicaremos somente o necessário na seção I.
“A arte imita a vida ou a vida imita a arte?”Esse pode ser um questionamento constante na mente de um libertário que acompanha One Piece. O fato é que a obra de Echiro Oda retrata e problematiza problemas reais e faz isso de uma forma surpreendentemente coesa, cativando muitos questionamentos ao leitor. E retratando de forma lúdica (propositalmente ou não) aquilo que o escritor Murray Rothbard demonstra em seu livro ‘A Anatomia do Estado’.
A distopia de One Piece se passa em um mundo geograficamente diferente, como evidenciado pelo mapa abaixo.
Existe uma única faixa de terra “linear” que vai de norte a sul e circunda o mundo de ambos os lados (que não é plano e nunca será), nomeada de RED LINE; o resto é água. Existem inúmeras outras ilhas ao redor do mundo, as quais podem fazer parte de algum reino ou ser um reino independente.[1]
Na faixa de água linear bem ao centro têm-se um mar chamado GRAND LINE. Que é cercado de ambos os lados por outro conjunto de faixas de mar (Calm Belt) onde habitam monstros marítimos ‘assustadores’. A Grand Line e a Red Line dividem o mundo em 4 oceanos: North, East, South e West Blue. Além disso, a Grand Line também é composta por ilhas, onde se criam rotas de navegação.[1]
Essas ilhas marcam a história, pois cada arco narrativo se passa em uma ilha diferente, e mostra a situação de um povo diferente. A pirataria se concentra dentro da Grand Line pois é o ambiente que provavelmente o tesouro estará localizado!
Um mundo que se passa em um período não muito tecnológico (aparentemente) e rodeado de mar, acaba se tornando um propício ambiente para a pirataria. Nisso a história de One Piece se trata da busca pelo tesouro de Gol D. Roger, um pirata aclamado como o Rei dos Piratas, que se entrega ao Governo Mundial e torna público a existência de seu tesouro, que até hoje não foi encontrado na obra.[3]
Diante dos fatos, Luffy, o protagonista, inicia sua jornada em busca de encontrar o One Piece e se tornar o novo “Rei dos Piratas” que nada mais é o Pirata mais imponente e poderoso e que não necessariamente seja rei de algum lugar. Luffy inicia sua jornada sem nada, em busca de membros para sua tripulação e um navio, em busca do grande tesouro.
Piratas sempre existiram no mundo de One Piece, e a era mais recente é a grande era dos piratas, onde todos buscam o tesouro do Gol D. Roger. Os piratas possuem poderes e ganham recursos saqueando ilhas e populações geralmente, às vezes exercendo um controle sobre um território e formando algo similar a um estado paralelo (assim como as favelas brasileiras tomadas pelo tráfico de drogas).
Mas o que a obra nos mostra é que o protagonista Luffy segue seu próprio senso de moralidade, não rouba de ninguém, apenas defende algumas terras de pessoas que ele simplesmente não vai com a cara, simplesmente -parafraseando- “chutando a bunda desses inimigos” (sendo todos bandidos inescrupulosos) e posteriormente recebendo apoio, dinheiro e comida voluntariamente dos habitantes das ilhas por onde passa. Os nossos protagonistas demonstram que existem piratas do mal e piratas do bem, e que um pirata não é necessariamente um verdadeiro criminoso, ele é somente alguém que presa pela sua própria liberdade. Os piratas em One Piece fazem alianças, navegam em grandes navios e ainda são procurados pela marinha, que anuncia recompensas públicas pelos corpos deles (O valor da recompensa é associado geralmente ao poder do pirata).
O mundo de One Piece tem uma história complexa e misteriosa. Tudo o que se sabe até a data de hoje, dentro do que foi disponibilizado na obra, é que, a 800 anos, uma entidade chamada de Governo Mundial foi criada na união dos 20 maiores reinos do mundo na época.
Esses reinos criaram essa organização e instituíram a Marinha, que é a “Força Armada” desse Governo, e que faz a institucionalização das leis e protege os territórios dos reinos afiliados a essa organização.
Porém, existe um grande mistério na obra, que é o que aconteceu nos 100 anos antes da criação desse sistema? O governo simplesmente apagou da história esse período conhecido como “século perdido”, não havendo qualquer registro compreensível pela população acerca do que aconteceu neste período – existem registros, mas é aí que mora o grande problema de que somente alguns personagens historiadores conseguem decifrar as línguas antigas, isso se, e quando, os registros são encontrados – .
O governo mundial é uma instituição teoricamente controlada pelo grupo de Gorosei, que comandam a Marinha e a Cipher Pol (serviço secreto). Esse grupo de nobres não foram democraticamente eleitos, e sim escolhidos a dedo pelos Tenryūbitos.
Esses são os seres iluminados no mundo de One Piece, são os descendentes diretos dos 20 reinos que criaram o governo mundial – que no tempo atual da obra já conta com mais de 170 reinos – e são facilmente identificáveis pela sua roupa inspirada em trajes de astronautas, que usam para não respirar o mesmo ar dos plebeus. [7]
Enfim, com todos esses arquétipos da narrativa descritos, pode-se começar a traçar correlações verissímeis de One Piece e a construção de um Estado.
Muitos historiadores descrevem o Estado como um meio para se atingir os fins da humanidade (Rothbard, 1974). O que coloco à questionamento é: este meio é válido? Vejamos o que One Piece nos diz.
“O estado é a organização social que visa a manter o monopólio do uso da força e da violência em uma determinada área”[8]
Essas palavras representam o que é o Governo Mundial em One Piece. A instituição possui braços de força: Marinha e Cypher poll que são os responsáveis na obra pelas maiores atrocidades e tormentos com o uso da força. E se engana aqueles que pensam que esse monopólio é usado em defesa do povo, do “nós”. A realidade que One Piece mostra, é que o Estado representa somente aqueles que estão no poder.
Desde os primeiros momentos da série, a marinha é usada como forma de defesa de seus próprios superiores, que são corruptos ou estão ali por receberem um cargo. E posteriormente isso é ainda mais escrachado quando a obra começa a revelar as atrocidades do passado, feitas em nome daquilo que o governo acha melhor, que, na verdade, não é bom para ninguém exceto o próprio governo. Rothbard ilustra isso:
“Devemos, portanto, enfatizar a ideia de que “nós” não somos o estado; o governo não somos “nós”. O estado não “representa” de nenhuma forma concreta a maioria das pessoas. Mas, mesmo que o fizesse, mesmo que 70% das pessoas decidissem assassinar os restantes 30%, isso ainda assim seria um homicídio em massa e não um suicídio voluntário por parte da minoria chacinada. Não se pode permitir que nenhuma metáfora organicista, nenhuma banalidade irrelevante, obscureça este fato essencial. Albert Jay Nock escreve de forma clara que: o estado reivindica e exercita o monopólio do crime. Ele proíbe o homicídio privado, mas ele mesmo organiza o assassínio numa escala colossal.”[8]
E vale ressaltar que, apesar de o Governo Mundial de One Piece não ser o conglomerado de TODOS os povos, ele sobrepuja o seu domínio territorial de forma indiscriminada, tentando controlar outros povos. Isso está sendo retratado no mangá neste exato momento, onde o Governo conspira a queda de um reino específico (e que é muito relevante para entender os mistérios do século perdido), apenas pelo motivo da existência do reino ameaçar a integridade do próprio governo mundial.
Essa legitimização e eternização do governo não é restrita a um governo autoritário como é demonstrado em One Piece. Um sistema democrático também esbarra nisso, pois para se manter no poder, o sistema não pode perder os seus fiéis seguidores. É preciso certo apoio, que pode ser um entusiasmo ativo, ou uma resignação passiva (Rothbard, 1974). E esse último é o que mais parece predominar na Obra. As pessoas simplesmente aceitam as atrocidades cometidas pela marinha em nome do Governo, por puro medo do poderio militar, configurando uma mera aceitação com o caos instaurado.
A eternização do poder e dos reinos em One Piece também é exercida através dos nobres. A ilha onde o protagonista nasce é marcada pela clara divisão social, onde os nobres são protegidos pelas forças militares para que não precisem se misturar com os mais pobres, marginalizados pela cidade. Esse sistema de privilégio promovidos pelo aparato estatal faz com que os nobres mantenham o apoio fiel ao reino.
Em One Piece, o nível de privilégio promovido pelo reino é tamanho e tão ridículo que acaba promovendo um genocídio. Sim, exatamente, está tudo bem matar pobre, pois as castas do reino supostamente se beneficiam disso, ou simplesmente querem. Isso nos mostra que o Estado nada mais que a institucionalização do preconceito, e a defesa desse preconceito promove ao governante uma casta de privilegiados que acabam concordando com isso por simplesmente ter o mesmo preconceito e se sentir “protegida”.
Os nobres tinham em sua mente que os pobres que vivam no lixão ao redor da cidade carregavam doenças, e que por isso não deveriam se aproximar dos seus lares limpos. Essa crítica de One Piece é muito presente em tempos de passaporte de vacina, onde uma maioria se sente protegida pelo governo quando este mesmo impõe que só podem frequentar estabelecimentos aqueles que forem vacinados. Isso nada mais é que a defesa do preconceito da maioria, sobrepujando a liberdade individual de se vacinar. (Mas sim, sugerimos que você se vacine! :D)
Mas só esses pontos não são suficientes para que um Estado consiga sobrepujar os povos e patrocinar catástrofes. Rothbard escreve:
“Mas ainda assim isto assegura apenas uma minoria de apoiadores fervorosos […]. Para produzir esta aceitação crucial, a maioria tem de ser persuadida por uma ideologia de que o seu governo é bom, sábio e, pelo menos, inevitável e certamente melhor do que outras possíveis alternativas. A promoção desta ideologia entre o povo é a tarefa social vital dos “intelectuais”. Pois as massas não criam as suas próprias ideias, ou sequer pensam de maneira independente sobre estas ideias; elas seguem passivamente as ideias adotadas e disseminadas pelo grupo de intelectuais.”[8]
Na obra de Echiro Oda, a catástrofe intelectual é tão descarada, que não apenas o Governo reúne aqueles que os favorecem, mas também persegue aqueles que o contrapõe ao questionar minimamente a sua legitimidade. A obra já cansou de dizer: o Século Perdido contém muitas informações e conta uma história que pode, provavelmente, derrubar todos os pilares que sustentam a atual epopeia dos reinos e da aliança mundial.
E, no mundo de One Piece, existia uma ilha inteira formada por pesquisadores e historiadores que estudavam sobre os reinos antigos, línguas antigas. O foco de seus estudos eram decifrar as pistas históricas que relatam o que aconteceu neste período.
O governo mundial explodiu a ilha através de um ataque em grande escala, e matou inescrupulosamente todos (ou quase todos) os habitantes da ilha.[4] E persegue constantemente aqueles que buscam estudar e entender o que aconteceu.
Segundo Rothbard,
“A união entre Igreja e estado foi um dos mais bem sucedidos e mais antigos destes mecanismos ideológicos. O governante ou era ungido por Deus, ou era ele mesmo, no caso do domínio absoluto de muitos déspotas orientais, o próprio Deus; como tal, qualquer resistência ao seu domínio seria blasfêmia.”[8]
Em One Piece, o governo se estabelece como um Deus por meio da figura dos Tenryūbitos, esses “seres” são pessoas sagradas. Quando um deles está passando, não é permitido olhar diretamente e todos devem se ajoelhar. Esses nobres são mostrados vivendo as custas de escravos que os mesmos compram com o dinheiro do governo em comércios, totalmente legalizados, de pessoas descriminadas pela sua aparência ou raça. Isso mesmo, existe escravidão em One Piece, e quem mais se beneficia são os nobres do governo, que compram os escravos que lhes parecem mais produtivos.
A história da guerra contra a escravidão é mostrada de forma genial em One Piece, onde uma raça inteira (os tritões) é perseguida pelo governo para virarem escravos nas terras dos Tenryūbitos [10]. O Estado, novamente, é demonstrado como a institucionalização do preconceito e de atrocidades contra a população.
Fazendo um paralelo com as terras tupininquins, um pensamento muito comum no imaginário popular brasileiro é a adoração do Exército, a defesa pelo regime militar, e a idolatria ao coturno. Trazendo isso para o mundo de One Piece, é de se imaginar que a marinha seja tão qual idolatrada pelo seu serviço.
E, de fato, a população precisa, em certo modo, da proteção da marinha contra os maus piratas, que dominam ilhas e constituem estados paralelos. Mas a marinha nada mais é que a institucionalização e defesa de outro estado ainda maior: o governo mundial. Sobre isso, Rothbard escreve:
“Os governantes atuais, alegava-se, fornecem aos cidadãos um serviço essencial pelo qual devem estar muito gratos: a proteção contra criminosos e saqueadores esporádicos. Pois para o estado preservar seu próprio monopólio predatório, ele realmente deve garantir que o crime privado e não sistemático seja mantido num grau mínimo; o estado sempre zelou ciosamente pela sua própria preservação.”[8]
E isso é colocado na obra de forma que o expectador de One Piece não consegue ver a Marinha como uma instituição benfeitora. A instituição é questionada em todos os momentos de combate contra os nossos heróis protagonistas. A marinha cria tecnologias mortíferas e usa-as indiscriminadamente contra todos que vão contra o regime do governo. Ela não tem interesse em saber se o oponente é um bom pirata, ou o mau pirata, ela vai contra qualquer um que ameace a soberania do Estado institucionalizado. Ela só combate o crime quando o crime ameaça o Estado.
Isso foi apresentado de forma completamente escrachada na grande guerra de Marineford (nome do grande quartel sede da organização), uma guerra entre os marinheiros e alguns piratas. O autor exalta que a marinha se preocupa mais com a caça aos que vão contra o Estado do que com a vida dos próprios marinheiros.
Fica tudo nítido, no ponto onde é preciso aparecer um dos grandes piratas da série, no final da guerra, para impedir a morte de um nobre marinheiro que pedia pelo fim da guerra. Esse marinheiro iria ser morto pelo seu superior, por ir contra as ordens e pedir para a retirada das tropas que estavam morrendo em campo de batalha, prezando que vidas fossem salvas. [11]
Mas isso deixa claro que assim como existem bons e maus piratas, também existem os nobres marinheiros preocupados com a população e que realmente se importam e possuem valores. Isso é demonstrado também, e de forma genial, pois estes marinheiros claramente desobedecem às ordens que deveriam cumprir. Eles carregam, em seus valores, um claro ensinamento de Fréderic Bastiat:
“Lei injusta não é lei alguma”.[12]
Esses marinheiros que vão contra a própria marinha muitas vezes são sobrepujados pelos ideais de liberdade dos protagonistas compostos pelo grupo pirada de Luffy. E esse é claramente o maior motivo de perseguição aos piratas pelo governo.
Os piratas carregam um ideal de liberdade, no sentido mais puro da palavra. Luffy luta pela vida de seus companheiros ameaçados pelo governo, pois ele defende que essas pessoas são boas e merecem viver. No ideal dele, o governo não tem o direito de assassinar pessoas boas. A luta de Luffy é simbolizada no episódio em que o seu grupo pirata queima a bandeira do governo, e declara guerra contra o mundo. [4]
Essa perseguição ideológica é uma grande ferramenta do estado na sua eternização, pois o maior perigo para o governo é a crítica intelectual independente e de que o estado precisa silenciar essa voz isolada ou qualquer um que levante novas dúvidas contra o Estado, declarando-os como um profano violador da sabedoria dos seus ancestrais (Rothbard, 1974).
Segundo Rothbard:
“O que o estado teme acima de tudo, claro, é qualquer ameaça fundamental ao seu próprio poder e à sua existência. A morte do estado pode ocorrer de duas formas: (a) por meio da sua conquista por outro estado, ou (b) por meio de um golpe revolucionário feito pelos seus próprios súditos — ou seja, por meio da guerra ou da revolução”[8]
É simplesmente genial como One Piece agrega esses dois fatores elencados por Rothbard. Como já demonstrado, alguns piratas criam estados paralelos, sendo temidos pelo governo de One Piece, que busca controlar isso de alguma forma pelas operações e investigações da Marinha.
Mas a obra não para por aí! Existe um grupo de revolucionários que buscam, até onde se sabe, pelo fim desse governo que agride as liberdades individuais.
Os revolucionários contra o governo foram pouco abordados, e atuaram de forma muito específica em apenas alguns momentos da série (até agora). A aparição dos comandantes na figura anterior se deu recentemente, onde a obra indica que os comandantes estarão se reunindo e neste momento em específico eles passaram por uma ilha dominada por piratas saqueadores.
Diante da situação, os revolucionaram deram armas para a população se defender dos piratas, ajudando as pessoas a lutarem, e não lutando por elas. Isso é colocado pelo poder de um dos comandantes, a Belo Betty, que consiste em inspirar muitas pessoas a lutar e isso é muito belo. Morley (outro comandante) chamou Betty de portadora da bandeira da liberdade por suas habilidades sobrenaturais (existem habilidades de luta especiais em one piece, mas não compete a este artigo discutir ou explicar). [13]
“Você vai morrer? Ou você vai lutar? Escolha o seu próprio destino! Ser um herói é dever de outra pessoa? Pode ser seu!” – Belo Betty [13]
“Apenas um dos grupos de governantes pode obter o monopólio da coerção sobre um dado território em um determinado momento […]. A guerra, embora com riscos, será uma tendência perene entre os estados, com períodos pontuais de paz e de alterações de alianças e coalizões entre estados.”- Rothbard[8]
A perspectiva de Rothbard sobre a instauração de guerras e alianças é o que se vê em One Piece, onde as alianças, não só, mas também, se formam pela simpatia de alguns bons piratas ou grupos de pessoas em seguirem, por exemplo, Luffy e suas convicções para se tornar o Rei dos Piratas. De outras formas, é possível ver o próprio Governo se aliando a piratas chamados de Shichibukai.
Esses piratas trabalham pelo governo e operam clandestinamente de forma irrestrita, dominando ilhas e subjugando populações por possuírem esse cargo. É, de forma descarada, que ocorre o corrompimento de instituições e a demonstração do funcionamento de uma máquina pública que sempre vai tender a corrupção. Em uma analogia, o exemplo dado em One Piece demonstra a relação que “supostamente” existe no Brasil com a cartelização de sistemas públicos, por políticos, para beneficiar empresas cujos donos são seus amigos ou familiares.
“Assim como às duas inter-relações humanas básicas e mutuamente exclusivas são a cooperação pacífica ou a exploração coerciva — produção ou depredação —, a história da humanidade […] também pode ser considerada uma disputa entre estes dois princípios. De um lado, existe a produtividade criativa, as trocas pacíficas e a cooperação; de outro, o despotismo coercivo e a depredação das relações sociais. Albert Jay Nock apelidou estas duas forças concorrentes com os termos “poder social” e “poder estatal”.” – Rothbard [8]
O que é One Piece se não a clara e fatídica disputa entre os voluntários que fazem parte do exército de Luffy e do Exército Revolucionário, contra todos os obedientes marinheiros supostamente leais ao governo?
A obra é, no fim, uma história entre o poder social e o poder estatal, uma história de guerra, de batalha pela liberdade dos povos e sobretudo dos indivíduos. E agora, é uma questão de assistir qual será a conclusão do enredo, torcendo e teorizando para que siga a constatação de Rothbard:
“Dentre todas as numerosas formas que os governos assumiram ao longo dos séculos, dentre todos os conceitos e instituições que foram experimentados, nenhum conseguiu manter o estado sob controle.” [8]
One Piece é uma obra extensa que vale uma leitura do Mangá. A obra, em cada arco narrativo, mostra, de formas diferentes, porque o Estado é uma catástrofe. Que seja um reino comum, um governo mundial, ou um estado paralelo de piratas, ele só se mantêm com a resignação passiva da população. Demonstrando porque é necessário que aqueles contrários ao roubo indevido se unam e derrubem essa estrutura catastrófica que mata, escraviza e tortura.One Piece é sobre isso, e não, não tá tudo bem.
[1] Mundo. One Piece Wiki. Diponível em: <https://onepiece.fandom.com/pt/wiki/Mundo> Acesso em 08 de Out. de 2021.
[2] One Piece Mangá – Capítulo 104
[3] One Piece Mangá – Capítulo 1
[4] One Piece Anime – Episódio 278
[5] One Piece Anime – Episódio 540, 541
[6] One Piece Anime – Episódio 275
[7] One Piece Mangá e Anime — Capítulo 498 e Episódio 392
[8] Rothbard, Murray N. A anatomia do estado. São Paulo. Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2012. 50p
[9] One Piece Anime – Episódios 490 a 516
[11] One Piece Mangá – Capítulo 57
[12] Bastiat, Frédéric. A lei. São Paulo, Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010. 3a edição.
[13] One Piece Mangá e Anime — Capítulo 904 e Episódio 880
[14] One Piece Anime – Episódio 151