O século XVIII, também conhecido como “século das luzes”, foi um período de profundas transformações no convívio social na Europa, principalmente na Inglaterra. A introdução da máquina a vapor nas manufaturas inglesas possibilitou um aumento sem precedentes na capacidade produtiva, criando as primeiras indústrias. Por consequência, a burguesia iniciou um processo exploratório por meio do trabalho compulsório dos ingleses que eram expulsos das suas terras por meio da política de cercamentos. Esse processo atingiu homens, mulheres e crianças, os quais eram forçados a trabalhar jornadas desumanas por uma remuneração baixíssima. A era da burguesia havia começado e a exploração da classe trabalhadora jamais terminaria.
Com certeza isso foi o que você aprendeu em sala de aula, porém é uma das maiores distorções da história da sociedade contemporânea. As premissas da Primeira Revolução Industrial tiveram sua essência transformada em uma história de sofrimento e exploração, aliada ao avanço tecnológico que viria a ser julgado como culpado pela submissão da classe trabalhadora às vontades dos grandes industriários. Esse texto tem como objetivo sintetizar brevemente a realidade da Primeira Revolução Industrial e explicar como ela representou além de avanços tecnológicos, evoluções sociais, culturais e econômicas.
No século XVIII, a Inglaterra possuía cerca de 8 milhões de habitantes, um modelo econômico mercantilista que já não suportava a expansão demográfica e altíssima subnutrição entre a sua população. Grande parte dos habitantes da Inglaterra viviam como ladrões, ou como andarilhos, ou como qualquer tipo de atividade que fosse destinada aos mais brutais dos miseráveis. Problemas sociais como esse fizeram com que a monarquia inglesa estipulasse programas sociais que destinavam esses indivíduos a asilos e “casas de correção” (um nome amigável para pequenas prisões). Ao mesmo tempo, a grande massa da população sobrevivia das migalhas da produção da gentry (a aristocracia fundiária inglesa), realizando bicos para manter o sustento de sua família e sem perspectiva alguma de ascender socialmente, visto que a mobilidade social sob o modelo monárquico era nula. A elasticidade social do modelo econômico e governamental vigente já não suportava mais tamanha população.
Nesse contexto, os comerciantes e artesãos ingleses e franceses desenvolveram um modelo de negócios que resultaria na derrocada das monarquias por toda a Europa: as manufaturas. As manufaturas eram pequenas fabriquetas, as quais utilizavam a mão de obra de diversos artesãos e produziam, no geral, itens dos mais diversos para as massas. Tais manufaturas sempre foram menosprezadas e tratadas com extremo preconceito por parte das lideranças da monarquia, e até mesmo da população geral, visto que não representavam nenhuma das “grandes” instituições da coroa inglesa.
Mesmo com as adversidades, o modelo sobreviveu. Na época, tamanha já era a dificuldade que o governo inglês enfrentava no combate a pobreza de sua população, que as manufaturas tornaram-se as principais fontes de renda para as massas de várias cidades e sua extinção representaria um número ainda maior de mendigos, ladrões e demais classificações dadas aos miseráveis que utilizavam da criminalidade para garantir a sua sobrevivência.
Nesse período, James Watt refinou o motor a vapor criado por Thomas Newcomen, o qual criava um vácuo parcial por meio do vapor da água e, consequentemente era capaz de movimentar um pistão, e que poderia aumentar significativamente a produção das manufaturas. E foi assim, justamente no emprego desse dispositivo na produção de tecidos, que surgiram as primeiras indústrias da humanidade. Essas indústrias, por sua crescente eficiência e produtividade em decorrência do emprego da tecnologia em sua atividade, conseguiram expandir a sua lucratividade, o que possibilitou a criação de novas vagas de emprego disponíveis à população, gerando o primeiro êxodo rural da era contemporânea.
Rotineiramente, ouvimos que o motivo do êxodo rural inglês ocorreu em detrimento dos cercamentos realizados pela gentry em suas terras. Contudo, os cercamentos foram eventos que ocorreram em localidades isoladas e por determinado período, enquanto o êxodo rural em decorrência da industrialização é um processo que ocorreu internacionalmente nas primeiras duas revoluções industriais e ocorre até hoje nos países que estão passando pelo processo de industrialização. Para justificar esse argumento, podemos utilizar o exemplo brasileiro, onde milhares de nordestinos, entre os anos de 1970 e 1980, migraram para o sudeste nacional em busca de oportunidades e melhores remunerações. Era exatamente esse o processo que ocorreu na Inglaterra do século XVIII: pessoas em um estado de subnutrição, migravam para as cidades industrializadas em busca de melhores oportunidades e remuneração pela venda de sua mão de obra para que, assim, melhorassem a qualidade de vida da sua família.
Esses incrementos na qualidade de vida do inglês permitiram que a população nacional mais do que dobrasse 100 anos depois, em 1860. A população aprimorou a sua qualidade de vida não somente por meio do aumento na sua remuneração, mas também pela existência de uma maior variedade e qualidade nos itens que eram ofertados. Lembre-se que o rico não utilizava da lã e do algodão (principais itens manufaturados na Primeira Revolução Industrial) nas suas roupas, mas sim a linha, a cambraia e a seda. Quem utilizava a lã e o algodão eram as massas, que beneficiavam-se da produção industrial, também, por meio do consumo da produção, o que permitia-lhes ter o que vestir e calçar. Dessa forma, podemos perceber que, essencialmente, a Primeira Revolução Industrial foi um fenômeno no qual pessoas, insatisfeitas com a sua condição de vida atual, organizaram sistemas produtivos mais avançados do que os existentes, com o intuito de gerar maior riqueza para si mesmas e, consequentemente, empregando outras pessoas e lhes remunerando melhor do que a monarquia fazia. Essas linhas produtivas foram destinadas à produção de itens que seriam consumidos pelas massas, o que resultou em maior qualidade de vida para a população.
De fato, as condições de trabalho não eram adequadas, o trabalho infantil era extremamente rotineiro e muitas pessoas morreram por consequência de doenças e problemas contraídos no trabalho nas indústrias. Esse é um fato que devemos sempre ressaltar, porque condições de trabalho que prejudicam o indivíduo interferem na cooperação social, desarmonizando a relação entre empregado e empregador e resultam em decréscimos significativos na produtividade e qualidade de vida. Mas jamais podemos negar que, mesmo com todos os argumentos contrários, a Primeira Revolução Industrial aumentou sistematicamente a condição de vida dos ingleses e, posteriormente, de todos os cidadãos dos países industrializados.
Autor: Guilherme Teixeira, estudante de administração na UFSM e coordenador de gente e gestão do Clube Farroupilha,
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