A filósofa russa Ayn Rand costumava dizer que a menor minoria na terra é o indivíduo, aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias. No Brasil de hoje poucas frases explicam tão bem a síndrome coletivista que impera nessa nação.
Poderíamos citar diversos exemplos de desrespeito aos direitos e as liberdades individuais, mas nesse artigo, citaremos um dos maiores acintes no que tange esse assunto – o sistema de cotas raciais.
De antemão é preciso ressaltar ao leitor que juízos emocionais serão evitados aqui e eu, sinceramente, recomendo a todos que façam o mesmo no intuito de não turvarmos a substância argumentativa proposta.
O sistema de cotas raciais foi implementado pela primeira vez em 1961 nos Estados Unidos como tentativa de diminuir a segregação racial naquele país e, oportunizar maior igualdade e justiça social aos negros discriminados por lá. No Brasil, o sistema de cotas raciais em universidades começou em meados do ano 2000 e se espalhou ao longo desses últimos treze anos cercado de problemas constitucionais e conceitos coletivistas obtusos, como justiça social e dívida histórica.
Poderíamos aqui tratar da inconsistência desses argumentos coletivistas e questionar a delimitação racial brasileira, haja visto, o alto grau de miscigenação da população brasileira. No entanto, a intenção aqui, é trazer o mínimo de subjetividade à argumentação com o intuito de torná-la o mais consistente possível.
As cotas raciais não resistem a uma análise social e econômica mais apurada e isso é um fato. O argumento de que elas auxiliam na equalização de oportunidades é falho porque é inconsistente quanto ao método. Se o intuito é igualar oportunidades devemos fazê-lo em critérios que não rompam com o mesmo propósito, ou seja, o de oportunidades iguais. As cotas raciais tornam o sistema assimétrico em seus meios e, portanto, injusto. A ideia de acabar com a discriminação racial segregando a sociedade em raças é de uma lógica incrível – não fosse trágica.
Oportunizar meios iguais a todos é algo que, por exemplo, o sistema de vestibular já faz. Todos fazem a mesma prova, no mesmo horário, com as mesmas questões, no mesmo tempo – não há discriminação por raça aqui. Se o que torna as pessoas desiguais nesse processo é a renda ou dificuldades cognitivas pessoais isso não é culpa do sistema de seleção e, sim, das discrepâncias intelectuais e financeiras de cada um. Logo, é nesse ponto de inflexão que o sistema de cotas raciais apresenta sua maior inconsistência. O problema atual não é de raça e, sim, de renda! Logo, criar um sistema de segregação por raça (sendo que o problema não é este) apenas gera injustiça e mais segregação.
Argumentos que justificam as cotas raciais no fato de que a maioria dos negros e índios dessa nação pertence às classes mais baixas é de uma argumentação que espantaria até Maquiavel. Quer dizer que: se o objetivo é realizar justiça social (seja lá o que é isso) e, incluir a minorias excluídas, os meios pouco importam, desde que, os fins sejam alcançados, é isso? Sonegaremos então o fato de que o sistema não inclui diversas raças que também estão na base da pirâmide social proporcionando vantagens a outras raças (índio e negros) de forma arbitrária?
Evidentemente, o sistema de cotas é injusto independente da raça. O problema repito é de renda! Além disso, é inconstitucional! Fere os artigos 5º e 3º (inciso IV) da Constituição Federal[1]. O fato do Supremo Tribunal Federal tê-lo aprovado não abona a injustiça e ilegalidade do sistema. O argumento do STF[2] de justiça substantiva para promoção da igualdade material e de oportunidade perante a lei, não encontra respaldo teórico e empírico porque, reitero, o problema é de renda (fora as questões de limitação individual que a miopia coletivista ignora).
Em suma, separar a sociedade em divisões coletivas nubla o verdadeiro problema. Quando isso é feito em bases raciais de forte miscigenação (como é a brasileira) os problemas e as injustiças cometidas se intensificam. Segregar a sociedade por raças é um caminho sem volta que abre precedentes previsíveis e perigosos. Não à toa o sistema de segregação racial em processos seletivos já possui anuência em concursos públicos rumando até para a seleção do legislativo brasileiro[3]. Um sistema como este incorre no risco de trazer a tona problemas arcaicos que por vias mais naturais já estavam sendo superados, ou seja, o de que não existe superioridade de uma raça sobre a outra. Elaborar um sistema que segrega e acirra a disputa de raças com o intuito de tornar o convívio social mais harmônico e igualitário é de um uma inteligência lógica que só a esquerda com suas proposições imediatistas consegue.
Esse não é caminho! O caminho é distribuir renda! E isso só pode ser feito em uma economia de mercado livre em que o capitalismo prospere e faça o que ele melhor sabe – gerar riqueza. Após isso basta que os processos seletivos respeitem os artigos 3º e 5º da Constituição e a sociedade continue sendo educada para aprender que indivíduos pensam e agem (e não coletivos ou grupos). Assim que se ruma para um ambiente de maiores oportunidades (ainda que estas não garantam o sucesso, afinal, cada um possui inegáveis limitações próprias e dificuldades inertes).
Ayn Rand disse tudo. Esquecer essas características em prol de uma lógica coletivista é negar os direitos individuais. E as soluções fáceis que a esquerda propõe fazem isso com acurácia. Incluir (pra usar um termo que eles adoram) as diversas raças oprimidas no passado não se faz com mecanismos simplistas e leis que apenas segregam e acirram ainda mais a sociedade. O capitalismo ao propiciar um sistema que produz riqueza como nunca visto, transformou os problemas de escassez em problemas de distribuição. Cabe a nós, liberais, alertarmos sobre os mecanismos que melhor distribuem essa riqueza e o acesso a ela. E isso é feito com respeito às liberdades individuais e limitando a ação do Estado. É assim, e somente assim, que se pode de fato defender as minorias.
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Felipe Rosa é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento (PPGE&D) da UFSM. Escreve todas as quintas para o site do Clube Farroupilha.
[1] Ainda que traga termos subjetivos como “o bem de todos”, o artigo 3º inciso IV da Constituição é bem claro quanto à discriminação por raça. E ainda mais claro é o artigo 5º da mesma. Ignorá-los é um evidente indício do apelo argumentativo que ideias coletivistas de defesa de supostas minorias está presente no judiciário brasileiro. Ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
[2] Ver: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/ao-aprovar-cotas-stf-busca-justica-material
[3] Ver: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2013/10/cotas-para-negros-no-legislativo-ccj-da-camara-aprova-proposta-de-reserva-de-vagas-para-candidatos-afrodescendentes-4317726.html
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6 Comments
George
Muito bom lipão. Desde do início este sempre foi o ponto discutido. Agora veja, será favorável para os partidos botarem uma cota por renda? Elevar o acesso a educação dos pobres “coitados” e dar a eles mais conhecimento sobre o sistema e o mundo, não garante voto.
Felipe Rosa
É outro bom ponto Ge. Particularmente, concordo contigo. Eu não vejo interesse algum por parte do governo em tornar a população menos ingênua e/ou mais criteriosa politicamente. Agora abordar tais temas no artigo ficaria um pouco complicado dado o juízo de valor que esses argumentos mais políticos trazem consigo. E eu tinha que tomar cuidado pra não me tornar pedante ou incorrer em um relativismo argumentativo. Abração meu querido!
George
sim claro, compreendo perfeitamente. No caso eu disse pois praticamente, impor cotas por raça, é mais vantajoso e político para os partidos. Esse é um dos problemas do sistema político, onde tudo é feito pensando na reeleição e no partido. Entendo que o artigo não é voltado pro lado político, mas no caso, eu apenas indiquei um motivo pelo qual o sistema de raças é o escolhido. Embora é claro, um sistema por rendas atraísse muitos eleitores, fica claro que ao longo prazo, isso levaria a uma população mais educada e com isso, eles ficariam limitados comparados a liberdade que há hoje pra eles. Infelizmente… é isso que se pode subentender…
Felipe Rosa
Perfeito Ge… de acordo contigo!! o proselitismo com cotas raciais da muito mais votos pro projeto petista de aparelhamento do Estado…
Franklin Figueiredo
Precisamos mesmo é de uma reforma política no Brasil, porém só conseguiremos isso depois de reformularmos nossa Constituição que é velha e antiquada para a realidade do nosso povo. Questionar os problemas é pouco, diante das nossas bases que nos fazem regredir como cidadãos. Pensar política é pensar no povo, é pensar nas minorias e maiorias de forma justa e humanizada.
,ZX zw*,Z as arFelipe Rosa
A Constituição é a base desse no Estado aparelhado e intervencionista. Seria o primeiro passo pra um reforma política boa. No entanto, o que se faz no brasil em termo de remendar a política geralmente caminha pra mais Estado e menos mercado e indivíduos.