Em meio a um cenário político tensionado no Brasil, entra em cena uma discussão que envolve – infelizmente –, diversas polêmicas: o piso salarial. A partir daí, surgem os apelos emocionais e as narrativas enviesadas que ignoram completamente a lógica econômica.
O estabelecimento de um piso salarial se refere ao menor valor de remuneração que pode ser paga dentro de um setor específico. Apesar do piso salarial ser, necessariamente, superior ao salário mínimo vigente, os efeitos dessa política no mercado são semelhantes aos que o estabelecimento de um salário mínimo gera.
Sabendo que os salários correspondem à precificação dos serviços, são importantes questionamentos: De onde surge o salário? Quem estabelece o salário de cada setor? Ao contrário do que muitos imaginam, não são as empresas que definem a faixa de preço dos produtos e serviços, mas sim o mercado – composto por toda a sociedade –, seguindo as leis da oferta e da procura desses bens e serviços disponíveis. Com isso, já sabemos que alterar, de forma imposta, essa precificação natural irá desencadear alguma deficiência no mercado.
Assim, chegamos a outro questionamento fundamental: Por que a sociedade é favorável à política do salário mínimo? Influenciadas pelo sentimentalismo, pelas narrativas sociais da esquerda e pelo desconhecimento, as pessoas – ao se sensibilizarem com os profissionais que trabalham de forma incansável e que, mesmo assim, possuem padrões baixos de vida por causa da má remuneração –, buscam pela imposição coercitiva sob as empresas, ignorando as distorções econômicas e sociais que o aumento forçado dos salários (seja de uma profissão específica, seja da economia inteira) é capaz de causar.
Da mesma forma, a população é favorável ao estabelecimento de pisos salariais para profissões mal remuneradas, visando, ingenuamente, a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Quais as distorções, portanto, que o mercado sofrerá com essa política? Em uma economia “livre”, onde o mercado está sempre buscando se ajustar, o aumento forçado do preço (desincentivo ao consumo) dos serviços de um setor fará com que as empresas contratantes não só adquiram menos funcionários, como demitam grande parte do seu quadro, uma vez que, para sobreviver, os custos da empresa precisam ser menores do que sua receita.
Esse desequilíbrio faz com que, primeiramente, diversos profissionais do setor fiquem desempregados. Além disso, somente as maiores empresas do setor – as quais possuem capacidade de sustentar um custo maior –, sobrevivam a essas alterações, formando um cenário menos competitivo e, possivelmente, constituído por oligopólios.
Por fim, é compreensível e fundamental a preocupação com a baixa qualidade de vida dos trabalhadores e sua valorização profissional, mas é preciso encarar os verdadeiros motivos que levam a má remuneração de algumas profissões e enfocar as políticas públicas na redução da pobreza na sociedade em geral, sem alterar a lógica do mercado – o qual estabelece os preços da forma mais imparcial e justa possível.