Game of Thrones, a série produzida pelo canal de televisão norte-americano HBO e inspirada na literatura de George R. R. Martin, teve seu último capítulo transmitido neste último domingo, 19, e, a despeito de todas as críticas ao seu enredo em sua última temporada, finalizou-se como uma das mais bem sucedidas e repercutidas séries da história da indústria do entretenimento. Em sua última temporada, a série nos relembrou que ditadores coletivistas sempre enlouquecem, que a guerra não traz nada além de destruição e que, mesmo na TV, não existem heróis prometidos. Esse texto busca trazer os principais pontos de questionamento político e filosófico da trama e como a visão liberal, caso fosse seguida em Westeros, poderia ter poupado muitos personagens mortos.
Um dos principais argumentos que justificam o sucesso estrondoso de Game of Thrones é de que toda a trama transfere temáticas atuais a um universo ficcional, fazendo as devidas adaptações, mas sempre mantendo a essência dos eventos. Entre cenas de combate com mortos-vivos e dragões voando, assistimos a escravos sem identidade guerreando sem um ideal, governantes psicopatas atentando contra a vida de indivíduos, dívidas do governo para com instituições financeiras, povos tendo sua liberdade de movimento restringida e revolucionários forçando sua legitimidade por meio da força. A série foi, em grande parte, uma representação clara e amedrontadora da realidade, onde a liberdade individual era atacada por todos os tipos de monarcas e governantes, os quais criavam guerras em benefício próprio e as utilizavam para justificarem sua manutenção no poder.
Conforme as temporadas avançavam, percebíamos que o mal aflorava dentro dos personagens mais carismáticos do início da série e que haviam recebido poder com base na confiança de terceiros. São personagens como Daenerys Targaryen que nos relembram que mesmo com a melhor índole e a maior ingenuidade, o ser humano que detém o poder da coerção e o monopólio da violência está sempre suscetível a ser corrompido. Os únicos personagens que redimiram-se ao longo da série e que evoluíram pessoalmente a ponto de tornarem-se verdadeiramente bons foram justamente aqueles que não tornaram-se líderes de um Estado coletivista. O poder corrompe o ser humano e, em Game of Thrones, as suas relações mataram mais personagens queridos do que poderíamos esperar.
Com grande certeza, uma das mais importantes localidades retratadas na série é a Muralha. A Muralha havia sido construída há milhares de anos para, supostamente, defender os 7 reinos dos Outros, os vagantes brancos, mas durante grande parte da série somente serviu para enviar criminosos ao trabalho forçado e impedir a imigração do Povo Livre, que são os que vivem ao norte da Muralha.
Cortar árvores, realizar a manutenção de castelos abandonados, combater forasteiros em uma fronteira desnecessária e apodrecer no frio eram algumas das atividades destinadas à Patrulha da Noite, a qual era constituída de criminosos do reino, que foram encaminhados à Muralha pelos seus respectivos Chefes de Estado. A Patrulha pode ser vista como uma excelente referência aos Gulags soviéticos, onde os habitantes locais que posicionavam-se inadequadamente ou contrariamente ao governo vigente, eram enviados ao trabalho, sem a possibilidade de escolha, mas essa comparação você já deve ter percebido.
Ao mesmo tempo, esses indivíduos eram forçados a combater o Povo Livre, apelidados de “Os Selvagens” pela população dos 7 reinos. Esse povo era constituído por diversos clãs que interagiam entre si e foram azarados o suficiente de estarem ao norte da muralha quando foi construída. Sua única “selvageria” era seguir os costumes e tradições dos Primeiros Homens (os primeiros habitantes de Westeros) e rejeitar qualquer tipo de Estado ou governante autoritário dando-lhes ordens. O Povo Livre é essencialmente minarquista e, assim como na vida real, a população da ficção marginaliza os que acreditam em um Estado menor, sem perceber que é o Estado que de fato corrompe e traz o sofrimento e a morte. Por conta dessa marginalização, eles são impedidos de emigrarem para os 7 reinos, uma vez que seu povo é visto como inferior ao povo “civilizado” de Westeros. Um belo exemplo de como políticas que impeçam a liberdade de movimento de indivíduos somente agravam os problemas existentes, pois todos deixam de ganhar ao impedir imigrações de mão-de-obra e capital.
Outro aspecto claramente desenvolvido nos perfeitos moldes da realidade foi o orçamento governamental. Quando Ned Stark, o antigo Chefe de Estado do Norte, assume o posto de Mão do Rei, depara-se com uma gigantesca dívida pública do Estado tanto com os Lannisters como, futuramente revelado, com o Banco de Ferro de Braavos. Mesmo com tamanha dívida e gigantescos gastos públicos, o rei Robert Baratheon continuava a gastar dinheiro dos seus cofres, buscando sempre mais crédito para pagar suas dívidas, ao invés de realizar contingenciamentos e cortes.
A mesma postura se repetiu com todos os demais governantes que sentaram-se no Trono de Ferro, onde os gastos sempre foram elevados e nunca ocorreu a priorização do desenvolvimento econômico dos 7 reinos. A dívida aumentava a cada temporada e a única coisa que os monarcas preocupavam-se era com maiores financiamentos para a criação de maiores exércitos para ganhar maiores batalhas, que seria a única justificativa plausível para a manutenção do seu poder.
Outra prova de que Game of Thrones conseguiu trazer perfeição à representação da realidade, quando falamos do aspecto econômico e financeiro do reino quanto a sazonalidade de produção. Mesmo o inverno sendo a representação de períodos de difícil produção e colheita, quando a escassez assolaria todo o continente, o governo preocupava-se somente com suas guerras sem sentido. Até mesmo na televisão o estado e os coletivistas insistem em assumir que não existe escassez, que há tudo para todos.
Daenerys foi introduzida na série como uma adolescente ingênua, filha do antigo rei e que era usada por seu irmão em benefício próprio, para que ele conseguisse organizar um exército grande o suficiente para retomar o trono que lhes era, em sua percepção, de direito. Durante as 4 primeiras temporadas, conseguimos perceber o amadurecimento da personagem, ela percebe seus pontos fracos e coloca pessoas de confiança para lhe ajudar a suprir suas falhas. Contudo, foi o maior exemplo do que ocorre quando alguém recebe muito mais poder do que os outros indivíduos são capazes de combater.
Com 3 dragões adultos e um exército de escravos guerreiros composto por homens que foram capturados ainda crianças e castrados para não servirem a nenhum propósito a não ser guerrear para quem lhes pagasse mais, Daenerys avançou pelos 2 continentes matando milhares de pessoas. Não existe fã da personagem que consiga justificar a crescente tirania e atrocidades que ela cometeu conforme mais obstáculos foram postos em seu caminho. Todos deveriam se ajoelhar perante ela, caso não se ajoelhassem, a única saída era a morte. Esse é o retrato dos revolucionários do século XX, que em um episódio diziam ao povo que eram diferentes de todos os que os antecederam e no episódio seguinte queimavam a população com armas mortais. Daenerys não era uma vilã, muito menos má, ela somente é a prova de que o coletivismo erra e que o poder do Estado corrompe até o mais puro coração.
Após a morte de Ned Stark nas mãos do governo do Rei Joffrey Baratheon, a Casa Stark e o Norte de Westeros iniciaram a primeira campanha visando a independência das terras. A primeira guerra foi travada por Robb Stark, o primeiro Rei do Norte em muitos anos, porém foi encerrada no atentado realizado em seu casamento, conhecido como “O Casamento Vermelho”. Após isso, o Rei passou o governo do Norte à Casa Bolton, os quais eram torturadores e assassinos por natureza e que, por conta disso, estavam muito alinhados com as políticas do Trono de Ferro.
Nesse momento percebemos que o Norte nada tinha de semelhança com os demais 6 reinos. O Norte possuía tradições muito semelhantes as dos Primeiros Homens, trazia a fé nos Deuses Antigos e suas maneiras de convívio social eram distintas. A única coisa que verdadeiramente os vinculava ao Trono de Ferro era a figura dos Stark, os quais sempre governaram Winterfell e são reconhecidos pelo povo como os verdadeiros Chefes de Estado.
Todas as guerras, estupros, batalhas e assassinatos que ocorreram em terras nortenhas poderiam ter sido evitadas se fosse garantido ao povo do Norte o direito à autodeterminação. Bastava algum Stark levantar alguma espada que já se iniciavam discursos motivacionais e de repente começavam a aclamá-lo como Rei do Norte. Eram indícios da clara necessidade dos povos de decidirem por si mesmos como preferem ser organizados socialmente, se querem ser governados por alguém e como preferem ser chamados. Sansa Stark terminar sua história como Rainha do Norte mostrou como, mesmo sob quaisquer circunstâncias, a liberdade de escolha é mais forte do que até mesmo a maior das opressões. “The Queen in the North!”.
Autor: Guilherme Teixeira, estudante de administração na UFSM e coordenador de gente e gestão do Clube Farroupilha,
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