O balanço do ano de 2013 sem dúvida alguma apresenta-nos um marco no campo das ideias liberais. Salta aos olhos! Quando em 2008 – em meio à crise do subprime americano – o hoje professor do Centro Universitário Franciscano (na época colega de graduação) Domingos Crosseti Branda apresentou-me os princípios da Teoria do Capital da Escola Austríaca[1] e, posteriormente, o primeiro artigo[2] de vertente austríaca eu nunca poderia imaginar que teríamos um ano como esse que se finda.
Eu me dirigia, quando desse primeiro contato com a teoria austríaca, aos últimos dois anos da graduação em Ciências Econômicas e o mesmo foi como um divisor de águas no campo da teoria econômica e, posteriormente, nos demais campos das ciências sociais (filosofia, epistemologia, sociologia, direito, etc.). A clareza e limpidez teórica com que os austríacos abordavam as variáveis econômicas vinham na contramão de todo o arcabouço confuso e intrincado de gráficos, fórmulas e terminologias que fazem jus a pejorativa linguagem que se cunhou como economês (méritos aos keynesianos e neoclássicos) e que acabou afastando a Ciência Econômica do público em geral – tornando seu estudo aparentemente difícil e nebuloso.
A essa época, ao menos na ciência econômica, o marxismo já estava relegado ao ostracismo que lhe cabe. Porém, as demais teorias mainstream[3] continuavam (e continuam) a dominar o debate econômico no âmbito acadêmico. Todo esse cenário impunha as teorias de vertente liberal um papel extremamente ignaro na formação acadêmica dos alunos – o que se estendia ao debate econômico a época. A abordagem liberal ficava estrita a panaceia proposta por Adam Smith ou a parcos estudos de Carl Menger (que sequer mencionado como precursor da Escola Austríaca era) e Milton Friedman (liberal da Escola de Chicago) ao qual o estudo do monetarismo era realizado também de forma rasa. Esse era o alarmante cenário em meados de 2008.
Assim, para que obtivéssemos alguma perspectiva distinta sobre aquele importante momento (a bolha imobiliária americana) que o mundo econômico presenciava se fazia premente estudarmos de forma extracurricular. E nesse momento o surgimento do Instituto Ludwig von Mises Brasil (IMB) foi fundamental. Foi através do IMB que se tornou possível aprofundar os conhecimentos austríacos e de fato estabelecer um debate verdadeiro com o que estava sendo discutido na academia. Pôde-se perceber a solidez da abordagem teórica da Escola Austríaca e como a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE) explicava acuradamente tudo o que vinha acontecendo no desdobramento da bolha americana. Foram-nos revelados economistas como Mark Thornton e Peter Schiff e suas predições[4] acerca dos perigos das hipotecas subprime e o que ocorreria naquele país. Naquele momento (já em 2009) saíamos da Matrix!
A partir de então o crescimento da Escola Austríaca e o renascimento do liberalismo não parou mais. Foram realizados três exitosos seminários de Escola Austríaca (de 2010 a 2012) em que pude conferir in loco o crescimento da EA e o estupendo aumento de jovens que (como eu) estavam lendo Mises, Hayek, Böhm-Bawerk, Menger, Hoppe, Rothbard, entre outros.
Hoje os preceitos austríacos começam a prosperar na academia com jovens[5] de formação austríaca ingressando em mestrados e doutorados pelo Brasil. Assim como disciplinas de vertente austríaca sendo ministradas em centros de formação superior[6] obtendo importante inserção acadêmica. A semente liberal germina claramente[7].
No âmbito midiático o debate também prosperou de forma galopante. O professor Olavo de Carvalho que até então pregava praticamente sozinho em meio ao deserto obteve a companhia de novos liberais. Além de Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Marco Antonio Villa, entre outros, uma série de novos articulistas se inseriram no debate sendo um deles com formação claramente austríaca – Rodrigo Constantino.
Junte a isso o surgimento e estrondoso crescimento dos Estudantes Pela Liberdade (EPL) pelas mãos sempre empreendedoras e incansáveis do Juliano Torres e pela disposição regional dos diversos coordenadores que formam a rede do EPL (incluindo este infante mas prodigioso grupo da região central do Rio Grande do Sul) e temos a explicação do grande 2013 que tivemos para o liberalismo.
É revigorante olhar para trás e perceber que não ficamos sozinhos. Quando eu – a seis anos atrás – na companhia do Domingos Branda, da Mariana Piaia Abreu, do Frederico Cosentino, do Oscar Mundstock e outros minguados estudantes de economia da UFSM começamos a ler aquela escola de pensamento escondida e renegada injustamente pela academia, jamais poderíamos imaginar que hoje a corrente liberal estaria no patamar que está. Que estudante de diversos cursos hoje a lessem desde o inicio de suas graduações. De forma autônoma e espontânea exatamente como prega o liberalismo.
O debate de ideias chegou e não vamos deixa-lo cair no ostracismo novamente. Acabou a era dos chavões e dos discursos prontos (pra desespero da esquerda). Como impecavelmente lembrava Mises o liberalismo não tem flores nem cores, não tem música nem ídolos, não tem símbolos e nem slogans. Ele tem a substância e os argumentos e cabe a nós fincarmos essas ideias no debate. Mostrarmos a substância dos nossos argumentos. Os primeiros passos já estão sendo dados. As pegadas deixadas por eles cada vez mais sólidas. Posso dizer que hoje minhas esperanças aumentam. E a cada ano estas se renovam. O futuro brasileiro ainda preocupa[8] mas também traz esperança. Se realmente são os jovens que constroem o futuro, estes estão cada vez mais do lado das boas ideias. Afinal, como novamente dizia Mises é com ideias e somente com elas que se pode iluminar a escuridão. Avante liberais. Com argumentos. Com persuasão e tolerância. Chegamos! E estamos apenas começando.
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Felipe Rosa é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento (PPGE&D) da UFSM. Escreve todas as quintas para o site do Clube Farroupilha.
[1] A Teoria do Capital da Escola Austríaca é base estrutural para a fantástica Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE). Ao leitor interessado no assunto ver: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=206
[2] Me refiro ao sensacional artigo de David Gordon. Ver: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=254
[3] A mainstream economics não possui uma delimitação teórica precisa acerca das escolas de pensamento econômico que a compõem. Aqui delimitarei como mainstream a teoria keynesiana no campo da macroeconomia e a neoclássica na abordagem microeconômica.
[4] Ver entre outros vídeos a fantástica compilação das participações de Peter Schiff nas diversas redes de televisão americanas em que ele prediz ainda em 2006, por estar acompanhado da teoria econômica correta, com incrível acurácia a crise de 2008. Ver: http://www.youtube.com/watch?v=8lpSnECTKW8
[5] Como alguns exemplos temos o de Gabriel Oliva primeiro lugar nacional no exame Anpec para ingresso em mestrados e doutorados em economia e o da Mariana Piaia Abreu mestranda na UFV e aprovada no doutorado da Universidade Federal Fluminense (UFF). A monografia de ambos, entre outras, podem ser encontradas aqui: http://mises.org.br/Ebook.aspx?id=38
[6] Um claro avanço nesse aspecto são as disciplinas optativas em Escola Austríaca que estão sendo ofertadas no Centro Universitário Franciscano e na Universidade Federal do Ceará. Além da presença acadêmica pioneira dos proeminentes professores Ubiratan Iório (UERJ), Fábio Barbieri (USP-RP) e Antony Müller (UFAL).
[7] http://clubefarroupilha.wordpress.com/2013/12/02/semente-liberal-germina/
[8] http://clubefarroupilha.wordpress.com/2013/11/14/porque-o-futuro-brasileiro-preocupa/
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