O diretor da Foundation for Economic Education e fundador do Liberty.me, Jeffrey Tucker, esteve no Brasil, novamente, durante o último Fórum da Liberdade, que ocorreu em Porto Alegre nos dias 10 e 11 de Abril de 2017. Tucker, que já havia participado do mesmo Fórum dois anos atrás, voltou para os Estados Unidos com uma opinião formada sobre o Movimento Liberal Brasileiro. Opinião, esta, que foi publicada em inglês originalmente no site da FEE.
Dois anos atrás, no Brasil, quando participei pela primeira vez do Fórum da Liberdade em Porto Alegre, a conferência já era gigante (3.500 pessoas, pelo que lembro), mas os ânimos estavam para baixo. O sistema político parecia, desesperançosamente, tender para a corrupção. Pessoas de mente livre não se viam progredir. O país parecia preso em um socialismo empobrecedor para sempre, um despotismo impregnado até onde os olhos podiam ver, e o povo perguntava: Não há nada que possamos fazer?
Que diferença 2 anos fizeram!
A corrupção veio à tona. Tudo se abriu, de repente. Protestos eclodiram. A presidente sofreu impeachment. Novos líderes políticos emergiram. A imprensa está prestando atenção no grande e diverso movimento pela liberdade naquele país.
Todo mundo, hoje, está energizado, otimista e dedicado em todos os níveis. Não diz respeito apenas à política. Está entre professores, estudantes, bloggers e Youtubers, e organizações locais de todos os tipos. Todo mundo está participando, pronto para colaborar.
A oportunidade está no ar, e a realização se nutre em si mesma. Você cria o futuro que acredita ser possível.
E é claro que o movimento liberal está disposto a fazer uma enorme diferença. A mesma conferência, este ano, reuniu 5.500 pessoas, tornando-se, de longe, o maior evento de viés liberal do mundo. Entre os palestrantes encontravam-se empresários, membros do Estado e da mídia, intelectuais, editores e um grande número de espectadores concentrados enquanto eles falavam sobre a tradição liberal de paz, empreendedorismo, liberdade e a adaptabilidade da história frente à novas ideias.
Nos estandes espalhados pelo saguão da conferência, livros de autores como Milton Friedman, Ayn Rand, Ludwig von Mises, F.A Hayek e intelectuais brasileiros como Hélio Beltrão e Fernando Ulrich vendiam como água. Eles reuniam filosofia, política, economia, direito, ética e tecnologia. A visão mundial sobre liberalismo está sendo propagada da maneira certa: através da difusão de ideias.
Estou admirado com os editores e tradutores e o trabalho que eles têm dedicado para tornar isso possível. Todo livro é um presente para a história. Cada obra explica, à sua maneira, o mesmo ponto de vista: Que a sociedade prospera não quando ela é administrada do topo, mas sim quando tende para a tomada de decisão criativa de seus membros e suas escolhas e associações pessoais. É uma visão que foi majoritariamente rejeitada por um século na maior parte do globo.
Essa rejeição não significou nada além de tragédia. Quase todos os países no mundo carregam o peso de uma dívida pública que está arruinando o potencial para a criação ilimitada de riqueza. Sonhos estão sendo destruídos dia após dia, sugados pela burocracia e planos ineficientes impostos pelo poder centralizado. Partidos políticos estão lutando para controlar a máquina do poder, e não há nada a ganhar com tal trajetória. O que precisamos é bem simples: As elites poderosas precisam abandonar o controle e permitir que a ordem social por si só faça sua mágica.
O Brasil tentou todas as alternativas. Agora parece estar pronto para dar uma chance à liberdade. Pode ser que não aconteça da maneira perfeita, contudo as chances de vitória – privatização, redução de impostos, reforma comercial, abertura do sistema de saúde e educação e empreendedorismo – são promissoras. E se não imediatamente, também ficou claro que este Movimento veio para ficar. E está crescendo exponencialmente.
O que posso dizer é: É algo lindo de se ver. Todos os países no mundo tem um movimento liberal, mas muitas pessoas temem que possam estar perdendo seu tempo. Elas lutam, criam blogs, fazem transmissões na mídia e nada nunca muda. Porém, o brasileiro não costuma desistir. Ao invés de recuar, eles tentam outro caminho, trabalhando cada vez mais duro, testando os limites e diversificando suas frentes de luta, aplicando cada vez mais energia intelectual e moral à sua causa.
A diferença no Brasil é que os líderes do movimento se recusaram a acreditar que os ideais que aumentaram a qualidade de vida no mundo inteiro, os ideais de liberdade, seriam permanentemente marginalizados. Eles acreditaram fielmente que essas ideias poderiam se tornar o motor principal da sociedade.
O Brasil estabeleceu uma meta bem mais alta, como um exemplo para todos os outros. Não há um país no mundo que não possa obter o mesmo resultado, aplicando entusiasmo, trabalho e energia suficientes. Eu nem sequer estou certo de que, até este evento, tinha noção das possibilidades. Mudou a minha percepção.
Parte do problema é que muitos movimentos liberais ao redor do mundo se conformaram com a própria marginalização. Eles lidaram com a derrota por tanto tempo que acabaram aceitando como um fato. Passaram a enxergar a si mesmos como um grupo de interesses ao invés da voz do povo em prol do bem comum.
Um sinal revelador de desespero implícito pode ser encontrado nos casos de faccionalismo dos EUA. Quanto mais um movimento se convence de que irá perder, mais ele se introverte, com divisões dentro de divisões, acusações vituperativas de heresia e intolerância em relação a pontos de vista diferentes. É um reflexo de desespero: “Se não podemos ganhar, devemos puxar o tapete dos outros através de expurgos, denúncias e rupturas pessoais.”
Essa tendência é quase ausente no Brasil. Os indivíduos têm, sim, diferentes reivindicações, interesses e pontos de vista, mas o tipo de faccionalismo amargo que você encontra em outros lugares é quase inexistente. Pelo contrário, o movimento pela liberdade no Brasil engloba toda e qualquer pessoa que queira contribuir positivamente.
Uma característica do movimento, que me impressionou durante esta visita, é a sua inegável civilidade. As pessoas desse movimento libertário são alegres, cordiais, gentis, amáveis umas com as outras e orgulhosas por fazer parte do lado correto da história. Eu suspeito que isso se deve à confiança que estas pessoas têm na justeza da própria causa, acompanhada da linda e incrível cultura de gentileza para com o próximo.
Mais do que nos Estados Unidos, a cultura brasileira está infundida com uma delicada regra de etiqueta de sinalização social e pistas sutis. Você pode perceber pelas maneiras, pelo tom de voz, pelas atitudes de deferência baseadas no respeito mútuo.
Eu me perguntei o porque dessas tradições informais serem tão ricas e robustas nesse país, e especulei que se deve a uma variedade de fatores. Nenhum país no mundo possui mais diversidade racial e étnica, tanto que as palavras “raça” e “etnia” acabaram perdendo seu significado. As pessoas veem umas às outras, antes de qualquer coisa, como indivíduos, e a própria brutalidade da esfera política ressaltou a absoluta necessidade de a civilidade ser criada e preservada por outros meios.
Deixe-me citar apenas um exemplo. Depois de alguns dias, comecei a notar que em todos os círculos sociais, em conversas com várias pessoas, eu podia tomar por certo que falaria em inglês. E quando as pessoas estavam ao meu redor, mesmo quando falando entre si, sempre falavam em inglês, em respeito à mim. Só me dei conta disso na última noite, quando eu estava em um grupo e alguém começou a falar em português com a pessoa ao lado e um amigo sussurrou: “Por favor, fale em inglês”.
Eu percebi, naquele momento, o quanto fui tratado com infalível cortesia durante tantos dias – e eu nem tinha notado! E essa cortesia se estende à todas as esferas do convívio social: Pessoas me ajudavam a me orientar, a pedir comida, a falar com funcionários, com todas as ferramentas que eu precisava para apreciar e amar esse lugar maravilhoso. Rezo para que, um dia, os Americanos aprendam a ser tão gentis.
Uma coisa que pode ser percebida na história da liberdade é que ela nunca é construída apenas através da política. Da mesma forma que a sociedade não é construída do topo para a base, a mudança social não emerge nessa direção.
A política se adapta à realidade social que já existe. Se você quer liberdade, você precisa construí-la social, intelectual e culturalmente primeiro. É aí que entra o trabalho duro e é, precisamente, onde as pessoas tendem a falhar. Ao invés disso, elas querem que o mundo com que sonham lhes seja entregue em uma bandeja, porém não é assim que funciona.
Mas no Brasil se encontra uma determinação diferente, e um entusiasmo intelectual e moral, para viver o sonho que se quer realizar. Os organizadores do Fórum da Liberdade estão lá há 30 anos. E foi apenas nesse grande aniversário que se tornou aparente: o movimento liberal criou uma nação dentro de uma nação, como uma inspiração para o país inteiro.
E agora tornou-se um presente para o mundo. Como Americanos, podemos olhar para isso e perceber, talvez pela primeira vez: nós estabelecemos objetivos muito baixos. Se isso pode acontecer no Brasil, então pode acontecer onde você está também. É incrível refletir sobre a dívida que o século 21 terá com esse lindo país e seus cidadãos.
Autor: Jeffrey Tucker, diretor da Foundation for Economic Education e fundador do Liberty.me. Publicado originalmente no site da FEE.
Tradução: Clube Farroupilha
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1 Comment
FABIO SILVA DA COSTA
Astonishing article! Very well translated!
The ideas of freedom will win in the very end!