A Lei de Meios, considerada constitucional pela Suprema Corte da Argentina, vai quebrar o monopólio dos grandes grupos midiáticos no país, dentre eles o Clarín. Com a aprovação dessa lei, segundo reportagem da revista Carta Capital: “foi possível instalar 152 rádios em escolas de primeiro e segundo graus, 45 TVs e 53 rádios FM universitárias, além de criar o primeiro canal na TV aberta e de 33 canais de rádio vinculados aos povos originários. Agora, as mudanças poderão ser mais profundas, estruturais. O Clarín, tomado como exemplo pela dimensão que possui, não poderá mais ter a posse de jornais, revistas e editora; emissoras de rádio; televisão aberta (o Canal 13, vinculado ao grupo, disputa a liderança do mercado com Telefe, este ligado à Telefónica) e de televisão por assinatura, serviço que abrange mais de 70% dos lares daquele país”.
Destruir monopólios em prol de uma concorrência mais justa é sempre bem visto por inúmeros setores da sociedade. Contudo, o que sustenta os monopólios? Em um vídeo, Milton Friedman afirma que os monopólios existem devido à intervenção do governo. No caso do grupo Clarín, o exemplo de Friedman se encaixa perfeitamente. Foi durante a ditadura militar argentina (1976-83) que o grupo em questão se fortaleceu, devido a uma aliança com o governo, segundo uma entrevistacom a jornalista Graciela Mochkosky para a Folha de São Paulo.
Desde o fim do regime militar, o grupo Clarín criou inúmeros vínculos com os presidentes eleitos para obter vantagens econômicas. O presidente Menen, logo assim que assumiu o poder, “alterou a lei de mídia da época para permitir que o grupo comprasse o Canal 13, da TV aberta”.Posteriormente, a relação entre a Casa Rosada de Menen e o grupo azedou, tanto que o ex-presidente foi profundamente criticado pela mídia durante o seu governo.
Outra relação muito interessante entre o Clarín e o governo, foi durante a presidência de Néstor Kirchner: “Kirchner veio da província de Santa Cruz como um desconhecido, foi eleito com apenas 22% dos votos e só assumiu porque Menem deixou a disputa. Foi fácil deixar-se seduzir pela relação privilegiada com um meio de comunicação. No poder, fez uma série de alianças, entre elas com o Clarín, de quem acreditava precisar. O jornal passou a ter todos os “furos” [notícias exclusivas] do governo. O inimigo do kirchnerismo era o La Nación, por estar na oposição ideológica. Era um jornal conservador que havia apoiado a ditadura. Néstor o criticava enquanto tomava café com Magnetto (um dos donos do grupo) e passava furos ao Clarín”.
A relação do jornal com Cristina nunca foi boa. Magnetto não apoiava a eleição da esposa de Néstor. Com a popularidade de Cristina caindo e a crise com os ruralistas, iniciada em 2008, a guerra entre o governo e o grupo começou. Segundo, Mochkosky: “O governo cortou as fontes oficiais para jornalistas do grupo e o jornal ficou sem acesso à informação estatal”.
Tal fato só mostra que o governo cria monopólios. Uma empresa que não agrada os consumidores vai, naturalmente, sendo excluída do mercado. Entretanto, o governo pode “salvar” inúmeras empresas, através de trocas de favores. Dessa forma, com esse corporativismo, a corrupção se torna cada vez maior e a ineficiência acaba por assolar o mercado.
Um governo jamais poderá dizer se uma empresa é grande demais, logo não cabe a ele aprovar leis que destruam as mesmas. No caso argentino, Cristina está conseguindo destruir o monstro criado pelo estado e que durante anos foi alimentado pelo governo de seu marido. Ou seja, a aprovação da Lei de Meios pode deixar a impressão de que o governo está preocupado com a concorrência, quando na verdade está apenas eliminado os problemas que criou.