No dia da privatização do campo de Libra era possível ver pessoas defendendo o antigo slogan “o petróleo é nosso” e afirmando que a Petrobras era capaz de explorar sozinha a área que foi a leilão. Seria interessante que esses nacionalistas analisassem o nível de endividamento do Petrossauro em relação a sua geração de caixa, antes de exigir mais investimentos por parte dessa empresa. Ainda assim, não quero entrar nessa discussão. Na verdade, gostaria de mostrar que acreditar naquele slogan anacrônico traz mais custos do que benefícios para o Brasil. Para tanto farei uma análise histórica do nascimento dessa frase que surgiu no fim da década de 1940. Nesse período, o debate sobre como deveria ocorrer a exploração do “ouro negro” ganhou muita força no Brasil.

O socialismo nacionalista e o fascismo sempre andaram juntos
O socialismo nacionalista e o fascismo sempre andaram juntos

De um lado estavam os nacionalistas que defendiam que uma empresa brasileira deveria tocar todos os projetos relacionados ao setor de petróleo, uma vez que tal commoditie era de suma importância para o desenvolvimento do país. Além do mais, estes não queiram deixar um bem tão precioso nas mãos das gigantes do petróleo, “As Sete Irmãs”, que dominavam o mercado do produto a nível mundial. Foram os nacionalistas que criaram o slogan “o petróleo é nosso”, patrocinado pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo.

Do outro lado, estavam os “entreguistas” que defendiam que a exploração do petróleo deveria ser tocada pela iniciativa privada, uma vez que o país não possuía capacidade tecnológica, mão de obra qualificada e capital suficiente para desenvolver o setor para atender a demanda nacional.

Após vários anos de luta entre esses dois grupos, o projeto do primeiro saiu vencedor o que culminou na criação da Petrobras, em 1953. Foi decidido que a recém criada empresa teria monopólio sobre a exploração, refino e distribuição do petróleo. É interessante saber que, nessa época, o filhote dos nacionalistas produzia 1,5% do que o mercado interno necessitava e o restante era importado. Claro que durante décadas a Petrobras trabalhou duro (leia-se gastou muito dinheiro do contribuinte) para qualificar seu pessoal e ter tecnologia suficiente para dar ao Brasil a autossuficiência energética, que até hoje estamos esperando ansiosamente.

Por que o Brasil está esperando tanto? Ora, “o petróleo é nosso”! Logo, apenas uma empresa brasileira pode explorá-lo. Quando não há concorrência, a empresa se acomoda, seus planos de investimento se tornam menos ambiciosos e os gastos em geral aumentam, pois não tem que se preocupar com empresas mais eficientes exercendo a mesma atividade. O resultado disso é uma produção cara e de má qualidade. Os brasileiros sentem isso até hoje, devido aos 40 anos de monopólio do Petrossauro. Entende agora o motivo pela qual a nossa gasolina é tão cara? Claro que não podemos esquecer dos impostos e do controle de preços.

Mesmo depois da onda de privatizações ocorrida na década de 1990, a Petrobras se manteve estatal, tudo por causa da ideia do “petróleo é nosso”, apenas o seu monopólio foi “quebrado” em 1997,  o que já fez saltar a produção da estatal, por mais que a mesma ainda conte com várias benesses do estado.

Enquanto a Petrobras não for privatizada, o sonho da autossuficiência energética, da gasolina barata e da eficiência jamais serão conquistados. Entretanto, a privatização da mesma jamais irá ocorrer, uma vez que o slogan “o petróleo é nosso” foi embutido na cabeça dos brasileiros. Seria interessante perguntar para toda essa gente quais os benefícios que o Petrossauro traz a suas vidas. Muitos dirão que a estatal desenvolve o país, pois cria tecnologias que nenhuma empresa no mundo possui e gera milhares de empregos. Creio que essas empresas “atrasadas” não desenvolvem tais tecnologias e empreguem tanto devido aos custos gerados por essas decisões, que são altíssimos, mas que aqui são baratos pois são pagas com o dinheiro do contribuinte.

Portanto, para acabar com essa máquina comedora de dinheiro público é necessário apagar do imaginário brasileiro o slogan anacrônico que até hoje (depois de várias décadas) ainda não alcançou o seu objetivo. Deveríamos fazer a seguinte pergunta aos caros amigos nacionalistas: “se o petróleo é nosso, onde está a minha gasolina de graça?”

Mateus Maciel está cursando o primeiro período na Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ

Clipping Janela Quebrada

Postagens Relacionadas

14 Comments

Comments are closed.