Segundo a ilustre deputada estadual Manuela D’Avila (PCdoB), não é contradição alguma um comunista ter um Iphone uma vez que “o Iphone foi inventado na URSS”. Pois bem, acontece que Iphone é uma marca pertencente a Apple Inc, logo é impossível ele ter sido inventado lá. O smartphone tampouco foi inventado pelos soviéticos: o primeiro aparelho a reunir telefonia celular a recursos de computação foi o Simon, da IBM, lançado em 1994. E o celular? Pois então, um engenheiro russo chamado Leonid Ivanovich Kupriyanovich inventou em 1961 um artefato de comunicação portátil pesando apenas 70g capaz de se comunicar com outros aparelhos iguais. Isso quer dizer que o celular foi inventado na União Soviética? Não exatamente.
A comunicação via ondas de rádio, como alternativa ao uso de cabos, já existe desde o final do século XIX. Mas nesse tipo de comunicação havia um problema: cada aparelho usava uma faixa de frequência diferente para funcionar, e, como há um número limitado de faixas de frequência em que é possível operar, o número de pessoas que podem ter o equipamento em uma determinada faixa fica limitado a quantidade de frequências disponíveis, as quais eram de no máximo 44 para cada cidade. Além disso, havia outra problema: quanto maior a distância do outro dispositivo, maior a potência necessária para conseguir efetuar a chamada, de modo a dificultar chamadas a longa distância. O celular, por outro lado, tem um princípio de funcionamento diferente. A grande sacada do celular em relação aos antigos rádios comunicadores é que a sua área de cobertura é dividida em células, por isso o nome celular. Isso permite que a mesma frequência seja usada em várias células diferentes. O processo de funcionamento do celular, pode ser esquematizado da seguinte maneira:
A primeira descrição de um sistema de telefonia celular apareceu em um trabalho D.H Ring, funcionário dos laboratórios Bell, em 1947. No entanto, por conta das limitações tecnológicas da época, ele só se tornaria realidade muito tempo depois. Por exemplo, um sintetizador de frequência, peça necessária para que o usuário pudesse transitar entre uma célula e outra sem interromper a ligação, só passou a ser fabricado na década de 60. De qualquer maneira, a pedra estava cantada: a questão era quem conseguiria reunir as condições para que o invento saísse do papel. Finalmente, em 1973, Martin Cooper, o velhinho simpático da foto abaixo, e sua equipe da Motorola apresentaram o primeiro protótipo funcional de um celular “pessoal”.
Esses são os motivos pelos quais o aparelho inventado pelo russo não poder ser considerado um celular: ele ainda usava a tecnologia dos antigos rádio comunicadores que, como já foi explicado, limitava muito o alcance e quantidade de aparelhos que podem estar em funcionamento simultaneamente.
E mesmo que ele tivesse de fato inventado o celular, a deputada ignora a força motriz que fez os primeiros celulares de quase 1kg se tornarem os smartphones atuais, leves e capazes de executar várias tarefas ao mesmo tempo: o livre mercado. Quando se tem diversas empresas competindo em um mesmo ramo e ambiente, elas precisam mostrar seu diferencial, para conseguir fisgar – e manter – os clientes. A partir do momento que o estado atua de forma a colocar exigências e requisitos por meio de suas autarquias, essa força motriz que leva ao desenvolvimento fica mais fraca: por vezes, uma pequena empresa não tem condições de atender a essas exigências governamentais e fica de fora do mercado. Empresa esta que poderia vir a se tornar um ícone em sua área, pode acabar morrendo de forma prematura.
Nesse contexto, já pensou se Steve Jobs fosse brasileiro? No momento em que ele fundou sua empresa certamente ele teria se deparado com uma pilha de exigências por parte dos poderes governamentais: alvará de localização, alvará dos bombeiros, licença ambiental, comprovante de sei lá o que… Será que ele teria continuado com a sua empreitada ou teria desistido? No Brasil há milhares de talentos com capacidade para se tornarem futuros Steve Jobs, mas que acabam sufocados pela burocracia estatal.
Assim, podemos observar que essa constante inovação no setor dos smartphones e TI só é possível, em geral, porque há muitas empresas concorrendo, de forma a promover diversidade, fator proporcionado pelos setores livres, dotados de menor regulamentação.
Por outro lado, quando uma empresa estatal tem o monopólio garantido por lei, aí meu amigo, a inovação morre de vez. A empresa não precisa conquistar clientes visto que as opções são: a compra deste produto ou de nenhum. Logo, a empresa não tem absolutamente nenhum incentivo para se arriscar e tentar algo novo. Ou pior: graças ao braço forte do estado, o qual garante o privilégio do monopólio, ela não precisa sequer ser rentável. Afinal, caso o prejuízo ocorra, o pagador de impostos arcará com o ônus para que a empresa prossiga com seu trabalho. E esse é o motivo pelo qual empresas estatais são muito menos eficientes e progridem menos que as privadas.
Um exemplo disso: quando a URSS se dissolveu em 1991 apenas 1 em cada 10 domicílios contavam com telefone fixo, enquanto nos Estados Unidos esse percentual ultrapassava 80%. Até o Brasil tinha um percentual melhor – sim, aquele Brasil no qual adquirir uma linha telefônica levava inacreditáveis 3 anos. Os caras mal tinham acesso à telefonia fixa e querem te convencer que inventaram o Iphone. É mole?
Por fim, podemos afirmar que sob nenhum aspecto o invento do russo pode ser considerado um celular, muito menos um smartphone. E mesmo que tivesse sido, todo o desenvolvimento tecnológico que permitiu a evolução dos primeiros celulares até os smartphones de alto desempenho aconteceu em um ambiente capitalista. Essa fala da deputada Manuela não passa de uma mentira, a qual ela tem esperança que se repetida inúmeras vezes se tornará verdade.