Uma vez minha finada tia Neyde me contou uma história no mínimo irônica sobre um ex-presidente da República do Brasil, da época do período militar. A história sobre Costa e Silva era mais uma anedota deliciosa sobre a possível e latente ignorância do general.
Em resumo, a história se resume a um momento no qual o presidente, em inspeção às obras que ocorriam pelo país, apontou, espantado, a descoberta de uma nova Estatal para um de seus assessores. Contava minha tia que o tal linha dura esbanjava felicidade por termos a Petrobras, a Eletrobras e por termos agora a “Emobras”.
Observando o erro crasso do chefe de governo, o seu assessor prontamente o corrigiu, dizendo que a placa na qual o presidente havia visto tal mensagem se referia à expressão: Em Obras.
Esta história, que virou símbolo de escárnio, na verdade esconde uma face obscura do povo brasileiro: a face do maravilhamento pela ignorância.
Vemos tal fato acontecer com mais força à época das eleições, quando políticos prometem dobrar, triplicar, quadruplicar os investimentos em saúde, educação, segurança, e aqueles governantes da situação torram aos milhões o dinheiro (do contribuinte) para mostrar mais tarde suas realizações na vitrine do horário político.
O problema não é (apenas) esse: o que é realmente trágico é saber que entre quem assiste às propagandas, ao horário político, debates, conversas e entrevistas, só uma ínfima parcela desconfia que possivelmente os gastos em propaganda foram maiores do que os novos investimentos feitos em outras áreas e vai além: quem não faz idéia do que está ocorrendo naquele castelo de cartas marcadas que são as nossas eleições, ou seja, a grande maioria, comemora o fato de ter recebido uma fração daquilo que 4 meses do seu trabalho duro entregaram em quantidade de dinheiro de bandeja pra quem nos governa.
Não obstante, já cheguei a ouvir em debate político que um dos pontos altos de um tal governo de uma tal cidade próxima ao Rio de Janeiro, era o aumento da arrecadação. Se fossemos um país sério isso no mínimo seria a sentença de morte de uma campanha política, mas aqui como que reina é o fantasmagórico, o que ninguém sabe, mas ouviu dizer que é bom, se o padrinho falou, tá falado! É bom dar dinheiro pro governo e pronto, e Ai de você se pensar fora dessa linha.
Mas o pior de tudo mesmo é saber que dentre aquela parcela mínima que entende a propaganda e o horário político, grande parte é formada por quem acha que mais uma dose do veneno irá trazer a cura. É aquela galera que ouviu falar que é melhor assim e buscou sentar em cima da situação e lutar pelo que não procurou conhecer além da página 1. Muita gente que não faz ideia de qual é a função de um Senador, Vereador ou deputado, mas marcou com as amigas de ir na manifestação de Junho depois de sair do shopping e tirou várias fotos com cartazes pra postar no Instagram e no Facebook. Na realidade, é gente que não faz muita questão de saber o que tá acontecendo, mas quer participar porque ficou maravilhado pela sua própria ignorância.
Sabe como é, né, são os sonhadores e Ai de você se for contra eles e propuser uma alternativa baseada numa outra racionalidade.
Aliás, essa galera é perigosa porque se reproduz muito mais rápido e se veste com o manto da justiça e da proteção aos fracos e oprimidos que lhe interessam, além de defenderem Petrobras, Eletrobras e as “Emobras” da vida, só quando isso lhes interessarem também!
Daí vem o maravilhamento pela ignorância, e o pior de tudo, meu amigo, é que é pra esse lado que a balança política sempre tenderá.
Nycolas Magnani é Bacharel em relações internacionais pela UFRJ.
Clipping do original do blog Janela Quebra, de nossos parceiros Grupo Frédéric Bastiat – EPL/UERJ