Quem me acompanha sabe que sou um crítico fervoroso do Bolsa família. A minha crítica é exatamente em relação ao modelo do programa e não a sistemas de distribuição de renda. Essa forma de ajuda adotada não é o principal fator de melhora em nossa desigualdade, mas serve mais para objetivo de cunho eleitoral do que criar mobilidade social. Explico: se o governo realmente quisesse que os desamparados pudessem ter condições melhores, ele oferecia uma verba maior ou financiaria os custos para os mais pobres pagarem por serviços privados de qualidade como educação ou saúde. Mas, para isso, teria que reduzir o número de beneficiados para não encarecer o programa. Como o objetivo do governo é eleitoral, quanto mais pessoas forem inclusas no programa, mais fácil será ganhar eleições. Não preciso qual das duas opções o governo escolheu.
Você pode estar perguntando: então, o que explica a queda na desigualdade social e pobreza nos últimos anos? A resposta é: crescimento econômico sem inflação. Nunca na história do Brasil conseguimos crescer tanto sem ao menos ter inflação, talvez apenas durante o crescimento do Regime Militar. E quem deveria receber créditos por isso? O Lula? Claro que não. O Brasil somente conseguiu estabilidade monetária a partir de uma séria de reformas liberais: criação do Plano Real e as privatizações iniciadas desde o governo Collor. Por que a desigualdade social só aconteceu na gestão PTista? O principal fator é o cenário externo. No período FHC, o mundo passou por 4 grandes crises e não colaborou para o crescimento da nação. A partir de 2001, ocorreu uma das maiores ondas de crescimento econômico mundial da história e puxou todas as economias emergentes exportadoras de commodities. Com a inflação controlada, o Brasil conseguiu criar riqueza e prosperar.
Se o crescimento econômico iniciou em 2001, por que não houve queda na desigualdade também na gestão FHC? Como posso provar que o Bolsa família não teve influência ou responsabilidade nessa redução? Respondo: A desigualdade caiu no período 2001 e 2003, e foi sob o comando do candidato do PSDB em que houve a maior redução de desigualdade durante o boom das commodities. Se observarem no gráfico (a mancha verde equivale ao período de maior crescimento mundial) , é possível notar que a queda do índice Gini (indicador que mede desigualdade social, no qual quanto menor o valor, mais igualitária é a sociedade) aconteceu apenas enquanto o mundo crescia, sem influência de nenhuma outra medida assistencialista. O Bolsa Família apenas foi criado em 2004 (http://goo.gl/JrYfz9 ), momento em que já havia uma tendência de queda na desigualdade (traço em vermelho no gráfico). Após a criação do programa, ao invés de acelerar a queda de desigualdade, houve uma desaceleração, o indicador se afasta da projeção de queda. Quando o boom econômico terminou em 2008, o programa assistencialista continuou se expandindo e não obteve nenhum resultado.
Agora talvez chegamos em uma outra dúvida: se Lula fez milagre no início de seu mandato e o crescimento econômico mundial foi apenas uma mera coincidência? Primeiro, o declínio na desigualdade não começou na era Lula e sim 2 anos antes, exatamente quando se começou o boom das commodities. Segundo, para o país crescer, ele precisa ser mais produtivo, e o Brasil não foi. Por exemplo: se eu vendo 1 banana para a Argentina, para eu ter progresso, eu precisaria ser mais eficiente e produzir mais que 1 banana nos próximos anos. O que aconteceu com o Brasil foi ao contrário, ao invés de produzirmos mais bananas, as nossas bananas que ficaram mais caras devido ao crescimento da demanda mundial. Se vocês repararem no gráfico, a produtividade dos brasileiros só caiu durante anos e enquanto isso as commodities de alimentos, produtos que nós exportamos, quase triplicou de preço durante a era Petista.
Lamentavelmente, a maioria dos brasileiros são leigos em economia e pouco sabem o que é bom ou não para o país. As reformas liberais feitas nas gestões anteriores aos petistas, que colaboraram para o milagre brasileiro, tem sido desfeitas gradativamente. Existe um sério risco do cenário internacional não mais favorecer nossa economia e boa parte de nossos ganhos sociais e econômicos podem ficar comprometidos, tudo por ignorância e burrice ideológica. Enquanto isso o Bolsa família vai continuar em expansão, não porque produz resultados e sim porque é a maior solução para conquista de votos já criada por um governante nacional.
Camilo Caetano é estudante de Ciências da Computação na UNESP-Rio Carlo e colabora para o site do Clube Farroupilha.
As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.
Comments are closed.
10 Comments
arthurrizzi
Republicou isso em Tartaruga Democráticae comentado:
Dados interessantes. Não sou contra o Bolsa Família, mas é digno de observação.
Mateus Maciel
Sucinto, direto e sem economês. Creio que seja válido investir na divulgação desse texto. Parabéns ao autor!
Vanessa Geller
http://www.youtube.com/watch?v=7zD1wpx_cgE Esse vídeo aqui mostra alguns dados que justificam a afirmação dos países livres serem melhores=]
Luis Afonso Gomes Vieira
Caro amigo, interessante sua análise, mas para não parecer apenas ideológica deveria fazer um comparativo com o crescimento da era militar, quando as desigualdades aceleraram estrondosamente!!!
Alessandro Arzani
“Governments can reduce poverty and inequality through taxes and cash transfers. Successful programmes such as Progresa-Oportunidades in Mexico and Bolsa Família in Brazil have helped reduce poverty and inequality in the last couple of decades, but compared with rich countries, Latin American countries still fall short.”
http://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2012/01/focus-2
Felipe
Discordo do argumento colocado.O gráfico apenas mostra que a queda da desigualdade ocorreu durante o período de crescimento econômico mundial. Vou tentar falar aqui sem economês.
Concordo com o argumento que a inflação é prejudicial aos mais pobres, até porque os ricos tem acesso aos serviços financeiros que permitem a manutenção de sua riqueza. Entretanto, ela não é condição suficiente para explicar um amplo movimento de redução da desigualdade. Exemplo disso é a economia americana, que viveu sob reduzida inflação desde 1980 e observou aumento expressivo da desigualdade econômica.
Em primeiro lugar, temos que aceitar que mudanças econômicas são, sobretudo uma questão política, pois afetam diretamente a vida das pessoas.
Pensando nisso, é praticamente impossível reduzir a desigualdade com estagnação econômica. Isso significaria em retirar renda das camadas mais ricas e médias em detrimento das mais pobre, algo praticamente impossível em termos políticos.
Quando a economia cresce, você consegue executar políticas de redução da desigualdade sem criar tanta pressão política. A política de distribuição de renda assumiria a forma de uma alteração no modo em que a riqueza nova é distribuída (Lucros/Aluguéis/Juros/Salários).
O meu argumento é que, a política de aumento real do salário mínimo, e não o bolsa família, foram os principais redutores da desigualdade brasileira, ao aumentar a proporção salários/valor adicionado (O que as empresas produzem menos insumos) na economia.
E minha conclusão seria: O que produz queda da desigualdade econômica não é o crescimento econômico sem inflação, mas medidas que alterem a distribuição Salário sobre a riqueza gerada no país. E isso significa que, caso medidas distributivas nesse âmbito não sejam tomadas, provavelmente o crescimento sem inflação manterá ou até mesmo ampliará a desigualdade social, como o ocorrido nos EUA.
Pesquisei rapidamente no google academico e vi que tem uma série de papers tratando sobre o tema queda da desigualdade no brasil no período recente. Não vou recomendar nenhum porque você poderia me acusar de viés na seleção, mas posso fazer o mesmo caso vc queira.
Por fim, algumas considerações:
1) O bolsa família não tem como objetivo primário reduzir a desigualdade social, mas retirar da extrema pobreza tais famílias.
Vou usar um ex hipotético:
Lá no interior de um estado bem pobre, centenas de famílias viviam na miséria. Chega o governo e da 140 reais para cada uma. Essas famílias que não tinham nada, passa a comprar alimento, vestuário e porque não, até uma pinguinha ou uma calça jeans de 100 reais.
O fato é que por ter uma renda baixa, o pobre gasta quase 100% de sua renda (Kalecki). Porém, onde que o cara vai fazer isso? Ele faz na vendinha do seu Zé. Com o aumento das vendas, o seu Zé passa a comprar mais das lojas de atacado, que por sua vez compram mais da indústria, que passa a produzir mais e etc… Inclusive, se naquele município as vendas aumentarem um bocado, seu zé pode acabar precisando de mais um funcionário, o que por fim, acabaria por aumentar a renda total da cidade.
O meu exemplo quis mostrar o que é chamado de efeito multiplicador. Ele comprovadamente ocorre com o Bolsa família (apesar de não ser TÃO grande), como muitos estudos também comprovam. Se eu não me engano, um real gasto no bolsa família retornaria em 1,4 movimentados na economia.
2) Por fim, produtividade do trabalho não significa redução da desigualdade. O Brasil aumentou consideravelmente a produtividade do trabalho durante a ditadura, onde a desigualdade só aumentou (Crescer o bolo para depois dividir).
Rafael
é apenas a constatação do que o povo ja tinha sentido http://youtu.be/pCL3gZ8-bnw
Alan
Não tinha bolsa-família, mas tinha bolsa-escola que, posteriormente, foi unificado a outros programas de assistência como o auxílio gás e o bolsa alimentação, transformando-se no atual bolsa-família. O bolsa-escola foi implementado justamente em 2001, quando começou a curva com melhora dos índices, fato que compromete a sua análise.
Lih
É o Bil Gates, á ONU e outras tantas instituições internacionais devem estar errados e você certo! #coxinha