Este texto faz parte de uma série sobre a Ditadura Militar: PAEG – As Bases de uma Bomba Relógio, Geisel e os males da intervenção estatal e Figueiredo e o Preço da Intervenção Estatal.
Brasil e Chile já passaram por governos militares. No primeiro, o regime durou de 1964 a 1985 e no segundo de 1973 a 1990. Gostaria de deixar bem claro que não sou a favor de regimes totalitários e só irei analisar aspectos das políticas econômicas desses períodos, segundo uma visão liberal. De fato, tanto o regime chileno, quanto o brasileiro, merecem ser profundamente criticados pelas violações a direitos humanos incorridas à época.
Milagre Brasileiro
No Brasil, o milagre econômico ocorreu no período de 1968-1973. A receita para esse boom econômico é bastante keynesiana e visava solucionar o problema do baixo crescimento econômico e da inflação em alta, devido às medidas econômicas adotadas durante o governo JK e Jango.
A indústria de base foi o setor que recebeu mais investimentos, uma vez que o governo esperava reduzir as importações crescentes da indústria brasileira. Portanto, o setor elétrico, petroquímico, siderúrgico, construção naval, indústria pesada, e vários outros receberam investimentos do estado. É interessante apontar a grande relevância do estado nesse processo via criação de empresas estatais.
Obras faraônicas também foram feitas, uma vez que geravam empregos e faziam com que a economia crescesse. Dessa forma, a Usina de Itaipu, a Ponte Rio – Niterói, a Transamazônica (que ligava nada a lugar nenhum) e várias outras obras cuja utilidade é contestada até os dias de hoje, foram feitas. O resultado de todo esse projeto, tocado pelo então Ministro da Fazenda Delfim Netto (formado pela USP…), foi um período de forte crescimento econômico, como podemos ver no gráfico abaixo.
Entretanto, políticas keynesianas possuem ótimos efeitos a curto prazo, mas a longo os efeitos são desastrosos. A emissão de moeda e o aumento da dívida externa devido aos empréstimos internacionais acabaram por gerar inflação, o que corroeu profundamente o poder de compra dos trabalhadores. É muito comum ouvir que o milagre econômico brasileiro fez com que a miséria aumentasse. Tal afirmativa é verdadeira, uma fez que a inflação média mensal, apesar de ser menor do que a dos governos anteriores, ainda era bastante alta.
Se analisarmos o período do gráfico que vai de 1973 a 1984 é possível notar um dos efeitos mais comuns de um boom sustentado por emissão de moeda, endividamento e crescimento do estado: inflação altíssima, crescimento econômico baixo e desemprego. Ou seja, durante o milagre brasileiro, uma bomba relógio foi plantada, fazendo com que os mais pobres pagassem pela grande intervenção do estado na economia. As boas intenções nem sempre alcançam os resultados esperados…
Milagre Chileno
Antes dos militares darem o golpe de 1973, o Chile era governado por Salvador Allende. Muito aclamado pela esquerda, Allende visava implantar o socialismo em seu país de forma gradual, o que o fez adotar uma série de medidas econômicas socialistas. Tais medidas, contudo, acabaram por criar um grande caos econômico: baixo crescimento, desabastecimento e inflação em alta.
Quando o general Augusto Pinochet assumiu a presidência, medidas keynesianas foram usadas para tentar reativar a economia. Contudo, tais medidas falharam e coube aos Chicago Boys a missão de salvar a economia. Esse grupo era composto por chilenos que fizeram pós graduação na Universidade de Chicago e tiveram Milton Friedman como seu principal mentor.
As medidas propostas por eles eram de cunho liberal tais como: redução de impostos e burocracia, abertura econômica e financeira e eliminação dos direitos sindicais. Os resultados dessa dose de liberalismo foi um agravamento da crise econômico a curto prazo, mas nos anos posteriores a 1977 a economia se recuperou, apesar de a taxa de desemprego continuar alta (devido ao grande número de funcionários públicos demitidos), assim como a inflação. É possível notar isso nos gráficos abaixo.
Em 1982 o milagre chileno foi interrompido devido ao aumento das taxas de juros nos EUA, pelo então presidente do FED Paul Volcker. Volcker fez esse movimento para controlar a inflação que em 1980 chegou a 13,5%. A medida ajudou a tirar os Estados Unidos da estagflação, mas fez com que a dívida externa dos países latino-americanos disparasse. O Chile, que além de ter visto sua dívida externa aumentar de forma exorbitante, viu sua moeda se desvalorizar em relação ao dólar, devido a grande fuga de capitais especulativos e produtivos que ocorreu na época.
Com isso, o governo interviu no setor bancário, estatizando inúmeras instituições financeiras. Outra medidas intervencionistas foram aplicadas, mas em 1985 o Ministro da Fazenda Hernán Büchi voltou a aplicar algumas medidas liberais para recuperar a economia. A receita consistia numa forte redução dos gastos públicos (que ainda estavam altos), redução de impostos para empresas que poderiam gerar empregos, desvalorização do peso para recuperar as exportações, privatização de empresas estatais e controle das taxas de juros pelo Banco Central.
Os resultados podem ser vistos nos anos posteriores a 1985. É possível notar um forte crescimento do PIB chileno, queda da inflação, redução do desemprego e dos gastos públicos.
Conclusão
Analisando os dois milagres é possível notar que o brasileiro teve um caráter keynesiano e o chileno mais liberal (mas não totalmente). As consequências dos dois, a longo prazo, foram diferentes para cada uma dessas nações.
No Brasil, o milagre fez com que a inflação disparasse, assim como a dívida externa, sem falar no aumento do setor público na economia, profundamente corrupto, ineficiente e acobertado por uma ditadura. A recuperação da festa keynesiana promovida pelos militares só foi alcançada com a implantação do Plano Real e as custas do sofrimento de muitos brasileiros. No Chile, o milagre, apesar de ter causado desemprego (mais precisamente no setor público), enxugou o estado, controlou o processo inflacionário e reduziu os gastos públicos. Nesse vídeo de 1991, Milton Friedman dá sua opinião sobre as reformas liberais que ocorreram no Chile
No final, os números e a história não mentem: uma dose de livre mercado é sempre bem vinda. Canetadas de burocratas dificilmente serão mais fortes que a mão invisível do mercado, uma vez que o mesmo é controlado pelos indivíduos.
Autor: Mateus Maciel é estudante da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e membro fundador do Grupo Frédéric Bastiat (EPL-UERJ).
As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.
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18 Comments
André Rezende Azevedo
Paira uma nuvem negra no Chile agora com a “nova” Bachelet e suas políticas socializantes. Grande risco de regressão…
Parabéns pela pesquisa e artigo.
Bruno
Muito Bom!!!
jose vieira
Ótimo artigo ! porem não se preocupe regimes esses regimes não eram totalitários, mas sim autoritários, eles não queriam que nois pensássemos como eles mas apenas o respeitaremos. ao contrario dos comunistas que não admite outra FÉ que não seja a cartilha de karl max.
JT
TUDO ERRADO. KEYNESIANISMO É DE ESQUERDA E A DITADURA BRASILEIRA PERSEGUIU A ESQUERDA. A DITADURA BRASILEIRA FOI TÃO LIBERAL NA ECONOMIA QUANTO A DITADURA CHILENA.