A recuperação econômica na Alemanha, durante o governo de Hitler, é muitas vezes vista como um balanço positivo pela sociedade. De fato, após a Primeira Guerra Mundial esse país se encontrava em uma situação econômica bastante complicada, sendo que o Führer conseguiu virar o jogo, controlando a escalada dos preços e reduzindo o desemprego. A liberdade econômica, entretanto, foi sacrificada uma vez que, apesar da existência de um sistema capitalista na nação em questão, o mesmo era profundamente regulado. Portanto, o meu objetivo nessa texto é mostrar que, apesar da recuperação desse país no pós-guerra, a liberdade econômica foi profundamente comprometida, o que gerou inúmeras falhas que apenas o livre mercado poderia ter consertado.

Alemanha (1933-1945)

Quando o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães levou Adolf Hitler ao poder, em 1933, a Alemanha estava mergulhada em um grande caos econômico, político e social. No campo econômico, o marco sofria forte desvalorização frente a outras moedas, a hiperinflação corroía o poder de compra dos trabalhadores e o desemprego afetava um terço da população. No campo político, a disputa entre grupos de diferentes vertentes políticas fazia com que as tentativas de tomada de poder fossem constantes. No campo social, a população estava com o orgulho profundamente ferido, por conta da humilhação imposta pelo tratado de Versalhes. Com isso, Hitler priorizou dois problemas que deveriam ser solucionados rapidamente. O primeiro era a questão do desemprego e o segundo era o rearmamento da Alemanha.

Para solucionar o problema do desemprego, os nazistas, que eram bastante simpáticos as teorias de Keynes, iniciaram um crescente controle sobre a economia. O planejamento econômico foi então concebido em três frentes, visando acabar com o problema em questão: expansão de crédito, políticas fiscais e políticas específicas de investimento. Com a ajuda do crédito, a indústria de bens de consumo foi estimulada, assim como a expansão demográfica, uma vez que casais possuíam mais acesso ao crédito. Dessa forma, os recém-casados poderiam comprar imóveis, mobília e etc. Os impostos sobre veículos foram reduzidos, visando o estímulo a indústria automobilística (muito forte na Alemanha) e o investimento em obras públicas, como a construção de estradas e manutenção de edifícios também foi feito, uma vez que gerava mais empregos.

Os salários e os preços foram congelados, tendo o partido intervido fortemente nas relações trabalhistas, nos preços e na produção como um todo. A Frente de Trabalho Alemã passou a existir como uma espécie de sindicato geral, sendo obrigatória a filiação de qualquer trabalhador. O Grupo Industrial do Reich controlava todos os setores industriais, que eram obrigados a filiar-se ao órgão do governo, o que acabou por gerar grandes cartéis. Os demais setores da economia, como comércio, bancos, agricultura também tiveram que se filiar a outras agências reguladoras do estado.

Os preços passaram a ser controlados pelo Comissário Geral de Preços do Reich. Com isso, o governo não controlava apenas os preços, mas também todo o processo de produção, ditando o quanto e o que deveria ser produzido. A perda de autonomia do empresariado e dos trabalhadores, após essa forte regulação, se tornou evidente.

O balanço do plano econômico, do ponto de vista da geração de empregos, foi positivo. 6 milhões de trabalhadores foram contratados para trabalhar na construção civil ou em fábricas voltadas para a produção de bens de consumo. Apesar dos crescentes gastos do governo, a inflação caiu, uma vez que os salários e os preços eram fortemente controlados. Com um ambiente econômico favorável, Hitler nomeou Hermann Göring Ministro da Economia para que este preparasse a Alemanha para a guerra.

Göring aumentou ainda mais o controle sobre o sistema econômico, controlando ainda mais os salários e os preços, os investimentos, através de impostos, proibições e indicação de propriedade. Além disso, controlou o câmbio e passou a controlar a alocação da força de trabalho. Com relação à indústria, os setores petroquímico, óleo sintético, borracha, mineração e siderurgia passaram a receber grande atenção estatal. Todos esses setores possuíam ligação direta com a fabricação de armas que seriam utilizadas durante o conflito.

Com a política armamentista, o estado acabou por criar uma série de “campeões nacionais” que passaram a ter grande influência junto aos burocratas do Partido Nazista. Quando a produção era destinada ao estado, o lucro era certo, sem falar que esses empresários/”amigos do rei” passaram a desfrutar de uma certa autonomia que os pequenos industrias não possuíam. Grandes empresas como Siemens, Volkswagen, Krupp, Porsche e várias outras passaram a receber um tratamento especial dos nazistas, uma vez que a produção das mesmas era de suma importância para o rearmamento da Alemanha.

Quando conflito começou, em 1939, a Alemanha já estava bastante avançada na produção de armas. Ao longo da guerra, a produção desse tipo de produto foi ganhando cada vez mais importância na economia chegando a bater os setores de bens de consumo, construção civil e etc.

Conclusão

As políticas intervencionistas aplicadas pelos nazistas, muitas delas de caráter heterodoxo e keynesiano, conseguiram acabar com os três grandes problemas que a Alemanha vivia no período pós-guerra: aumento dos preços, desemprego e crescimento econômico.

A escalada dos preços foi controlada via controle de preços e salários. Dessa forma, os produtores não podiam aumentar o preço dos seus produtos, enquanto que o consumo era controlado através do congelamento dos salários. A inflação, se considerarmos que esta é causada pelo aumento da quantidade de dinheiro na economia, não foi controlada de fato uma vez que os nazistas seguiram emitindo moeda para custear os gastos públicos. O aumento geral dos preços, consequência do processo inflacionário, só não ocorreu devido às medidas de controle impostas pelo governo. Vale ressaltar que o sucesso de tal medida nesse período ainda é bastante duvidoso, uma vez que a mesma gera escassez.

O órgão responsável pela produção agrícola durante o governo nazista era o “The Reich Food Estate”. A demanda por alimentos era 30% maior que a oferta, fazendo com que muitos alemães voltassem para casa famintos. No setor de construção civil, a escassez de ferro fez com que muitas casas fossem construídas com encanamentos de madeira. A produção de ferro, que havia sido nacionalizada, não era capaz de produzir o suficiente nem mesmo para o exército. As roupas eram racionalizadas, assim como a gasolina e a borracha, reduzindo a demanda por carros. Além do mais, os nazistas escolhiam quais modelos e quantos carros seriam produzidos.

O controle de preços só não foi ainda mais ineficiente, pois o estado totalitário era capaz de ditar o quanto e o que seria produzido, de acordo com as análises dos burocratas que calculavam a demanda dos alemães. Caso o estado não fosse capaz de obrigar os industriais a produzir uma quantidade determinada, aconteceria o mesmo que ocorreu no Brasil na época do Plano Cruzado: escassez generaliza dos produtos.

A solução para o desemprego também é bastante controversa, pois a produção não era ditada pelo mercado, mas pelo governo. Dessa forma, a demanda real dos alemães era estimada por burocratas, fazendo com que esses alocassem a mão de obra de obra de acordo com o que eles acreditavam ser a real demanda nacional. Gerar empregos assim é muito fácil, uma vez que podemos “estimar” que a demanda nacional por biscoitos aumentou e com isso vamos contratar mais trabalhadores para o setor em questão. Apenas o mercado pode prever qual é a real demanda das pessoas, uma vez que elas mesmas mostram isso aos produtores, quando compram um determinado produto.

No final, todo o crescimento econômico não foi feito pelos indivíduos, mas por um grupo de burocratas que passou a controlar fortemente a economia. Sem falar que toda a “prosperidade” conquistada no período pré-guerra foi desenvolvida para levar a Alemanha ao um dos maiores conflitos da história e que simplesmente arruinou todos os “ganhos” econômicos anteriores.

Mateus Maciel é estudante da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. É membro fundador do Grupo Frédéric Bastiat (EPL-UERJ), e escreve todos as segundas para o site do Clube Farroupilha.

As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.

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