Para algumas lideranças feministas e estudiosas de questões de gênero, como a professora de Filosofia da UFRJ, Carla Rodrigues, o hábito de presentear as mulheres com flores e bombons no dia Internacional da Mulher apaga o seu histórico de luta. Isto porque a faz retornar ao seu lugar “tradicional”: essencialmente frágeis, essencialmente dóceis, essencialmente delicadas. Ao mesmo tempo, os homens parecem cada vez mais perdidos nessa data, não sabem se dão parabéns pela data ou se silenciam em nome da igualdade. Será que ainda faz sentido celebrar o Dia da Mulher?
O 8 de março como data escolhida para celebrar as mulheres tem origem na luta de mulheres operárias. É muito comum relacioná-la, no Brasil, ao incêndio ocorrido em Nova York no dia 25 de março de 1911. Hoje, busca-se resgatar essa origem e, de fato, em vários países, mulheres realizam protestos para fazer reivindicações trabalhistas. Desde então, mulheres conquistaram o direito de participar integralmente da vida política, o acesso às universidades e melhor amparo jurídico em relação ao divórcio, guarda dos filhos e violência doméstica. Claro, ainda temos muito o que avançar, em especial no que concerne segurança: no Brasil, em 2016, tivemos cerca de 34 mil notificações de violência cometida por cônjuges ou namorados contras suas parceiras. Já no resto do mundo, de acordo com a UNESCO, dois terços dos analfabetos são mulheres.
Então, faz sentido que exista uma data para comemorar conquistas e discutir os avanços que ainda devem ser feitos. Iniciativas de empresas, como a do Google, em destacar mulheres de renome mundial em várias áreas são muito importantes. Também é importante que as empresas pensem para além dos mimos e mensagens motivadoras. Devem utilizar o dia a dia como oportunidade para discutir boas políticas de igualdade de gênero, políticas anti-assédio ou programas de mentoria em áreas dominadas por homens são alguns exemplos.
E ao contrário do que tem sido comum afirmar, não acredito que as flores, as felicitações ou bombons sejam uma forma de reduzir as mulheres apenas a seres delicados. Da mesma forma que há quem desgoste, existem mulheres que efetivamente apreciam esse tipo de presente. Cada instituição deve avaliar o que cabe como presente considerando o perfil médio de suas funcionárias. Uma caixa de bombons não tem o mágico poder de apagar o histórico de lutas femininas.
Na verdade, penso que os presentes costumam ser eficazes em lembrar as pessoas da data e do que ela representa. Nos meus tempos de escola, por exemplo, era após os questionamentos dos meninos por não terem ganhado as lembrancinhas que os professores contavam a história e importância da data.
Por isso, restringir as comemorações do Dia da Mulher a um dia de greve ou protesto é, talvez, excluir mulheres que tem outras atividades e demandas de participar da comemoração. Além disso, pode fazer com que os homens passem a acreditar que não fazem parte da discussão – quando sabemos que são uma peça fundamental no processo de mudança almejado: uma sociedade em que cada indivíduo, mulher ou homem, realize seu potencial.
No fim das contas, o que todos queremos é que a cada 8 de março tenhamos mais conquistas para celebrar e menos questões para resolver. Assim, teremos um ano em que não precisaremos mais de um Dia Internacional da Mulher.
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