Artur Marion Ceolin
24 anos, internacionalista e administrador, é investidor e CEO da Pince Capital.


 

Recentemente li/ouvi alguns artigos e programas nos quais se afirmava que o vilão da inflação de 2016 é o feijão. Me lembrei do ano de 2015, quando os grandes culpados foram a gasolina, a energia, etc., e do ano de  2012, quando o tomate foi vilão tão imbatível ao ponto de ser capa das revistas Istoé, Época, etc. O preocupante ao se apontarem estes vilões é que os reais responsáveis pelas crises inflacionárias que mancham tão drasticamente a história do Brasil ficam impunes.

Ao usar esses subterfúgios falaciosos, os governos tentam esconder o principal vilão dos surtos inflacionários. Eles, os próprios governos, são os únicos grandes responsáveis pelas inflações persistentes, afinal, a inflação é o aumento da quantidade de moeda circulante. Ludwig von Mises foi pontual ao evidenciar, na série de palestras que resultaram no livro As Seis Lições, que “quando a inflação começa, diferentes grupos da população são por ela afetados de diferentes maneiras. Os grupos que recebem o novo dinheiro em primeiro lugar ganham uma vantagem temporal”.

Não teria sido esse, como Mises bem afirmou, o motivo da elevação tão drástica do preço de alguns produtos? Há de ser lembrada a tão propagada ascensão da nova classe média, que nas palavras dos presidentes no poder desde 2003, criou um novo mercado consumidor. Há de ser lembrada a tão propaga política de conteúdo nacional, na qual o governo pagava três ou quatro vezes mais por uma peça do que se a comprasse nos concorrentes internacionais. Como foi possível financiar tantos projetos em tão pouco tempo via BNDES? De onde sairam os 500 bilhões?

Como Ron Paul definiu com exatidão no livro Definindo a Liberdade, tais problemas econômicos não devem ser encarados como o desastre, mas sim como “um período de convalescença que seguiu a falsa sensação de prosperidade gerada pelo boom”. Especificamente falando do recente caso brasileiro, a teoria austríaca dos ciclos econômicos se aplica nas decisões da ex-presidente Dilma de baixar artificialmente (e sob forte discurso público, dando claros sinais de intervenção no Banco Central) a taxa de juros, o que levou a distorções econômicas. Estas distorções também foram influenciadas pelas políticas de subsídios e de crédito do governo que beneficiaram os amigos do rei com empréstimos vultuosos muitas vezes concedidos sem contra-partidas, como nos casos dos empreendimentos do então magnata Eike Batista ou da Família Batista, controladora da JBS, que fez uso de dinheiro governamental para comprar frigoríficos e controlar o mercado.

De fato, Mises pontua que por um curto prazo de tempo os processos inflacionários resultam no aumento do atividade econômica, entretanto, a longo prazo só corroem a renda da população, principalmente dos mais pobres, que não tem patrimônio ou recursos suficientes para se protegerem, ficando submissos à variação de preços enquanto seus salário só compra menos a cada dia que passa. Por doze anos, vivemos uma situação virtual que iludiu boa parte da população, como se com uma varinha mágica fosse possível reduzir a pobreza brasileira de modo instantâneo.

Não existe inflação duradoura sem a atuação do Estado. Altas momentâneas no preço do tomate, do feijão, da gasolina, do aluguel, etc., podem ocorrer, entretanto, as cestas de consumo são formadas por produtos diversificados, o que acaba mitigando o efeito destas altas pontuais aos consumidores. Ou há alguém que consuma tanto tomate ao ponto de que uma alta nos seus preços alavanque para cima a inflação de modo duradouro? Os governos são os únicos responsáveis pelos processos inflacionários, justamente porque a impressão de moeda em escala resulta em uma alavanche monetária que corroe a renda e reduz o poder de compra dos indivíduos.

Os brasileiros, na sua maioria, são um conjunto de pessoas devotas. Essa devoção, evidentemente, se aplica no processo político. Expressões milagrosas como “os 50 anos em 5” de JK, o “Milagre Econômico” dos militares, o Brasil sem pobreza e da nova classe média dos governos petistas sempre resultaram em amplo apoio popular, sendo que este dura até a ressaca da política irresponsável destes governos. Entretanto, a ressaca dura pouco: basta outro conjunto de promessas mirabolantes, insensatas e pretensiosas que os brasileiros encontram um novo Messias para conduzí-los rumo ao desenvolvimento…

Enquanto os indivíduos apoiarem a busca insensata dos governantes por políticas inflacionárias a fim de chegar ao pleno emprego, acreditando em milagres econômicos de curto prazo, a sociedade amargurará crises drásticas: a sociedade continuará convivendo com a artificialidade do nível de emprego e da conjuntura econômica que em poucos anos se esvai e vira pó. Governos não criam nada, eles apenas tomam. Deve-se sempre ter em mente a frase de Ronald Reagan, presidente americano, “o governo não é a solução, ele é a origem do problema”. Mantenhamos nossos olhos vigilantes.

 

REFERÊNCIAS

 

MISES, Ludwig von. As seis lições. 7. Ed. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 2009.

PAUL, RON. Definindo a liberdade. 1. Ed. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2013.


*As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.

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