Diz-se comumente que aqueles que não estudam a história estão condenados a repeti-la em nuances e erros e isso quando se trata da América Latina é quase uma regra. A situação calamitosa da Venezuela e sufocante da Argentina nos dá uma sensação de segurança quanto à economia brasileira e sua solidez perante o que ocorre nesses países. Ledo engano!

A economia brasileira, a pouco tempo tão festejada mundialmente, apresenta sinais nítidos de esgotamento macroeconômico e descontrole governamental em termos fiscais e monetários. Tal conclusão não se deve apenas ao baixo crescimento do PIB recente, e sim, a uma série de conjunturas que deveriam ao menos preocupar aqueles que estão com as canetas na mão em Brasília.

O atual governo não faz a lição de casa e isso é um fato.  Concentra-se em políticas de curto prazo que apenas doura a pílula, mas não cura o paciente. A tempos economistas ligados a Escola Austríaca de Economia[1] alertam para a importância de se poupar (leia-se como abster-se do consumo) no pavimento de um crescimento sustentável. Bons níveis de poupança ocasionam aumento nos investimentos, pois liberam fatores de produção no longo prazo acarretando em acumulação de capital, queda sustentável das taxas de juros de longo prazo e consequente aumento do emprego e do produto da economia. Essa deveria ser a receita para um crescimento sustentável de longo prazo. Todos os países hoje desenvolvidos adotaram de alguma forma tais predileções econômicas – o Brasil não!

Por aqui a política econômica escolhida é sistematicamente de curto prazo. E esta todos nós já conhecemos. Foca no consumo via endividamento fiscal e expansão monetária com intuito de fazer barulho com alguns pontos a mais no PIB. É dessa forma que o governo petista vem construindo uma economia de saliva em que o proselitismo e o eufemismo são regras básicas para enganar o incauto povo brasileiro, afinal, para quem tem apenas um martelo tudo se parece com um prego.

Porém, a economia é cruel e cobra a conta impiedosamente. Não são poucos os indicadores que demonstram o momento delicado da economia brasileira. A dívida fiscal bruta (a que realmente importa, pois não está maquiada[2]) beira os 60% do PIB[3] comprometendo as gerações futuras e pressionando a inflação de preços pelo lado da demanda.

Por outro lado, pesquisas recentes demonstram um comprometimento de quase 45% da renda das famílias com pagamento de dívidas. Tal contexto imerso em um cenário em que o governo, previsivelmente, não consegue manter as taxas de juros em níveis mais baixos em função da falta de poupança doméstica e da pressão inflacionária nos preços advinda da expansão monetária[4] capitaneada pelo Banco Central, gera um cenário de agravamento no comprometimento do brasileiro apenas com o pagamento dos juros das dívidas assumidas[5].

Somando esse ambiente a um contexto de desindustrialização precoce da economia brasileira[6], desrespeito ao tripé macroeconômico (superávit fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação) e relaxamento da Lei de Responsabilidade Fiscal dos estados e municípios, obtém-se uma perspectiva límpida que explica a falta de credibilidade que o atual governo desfruta junto ao mercado internacional e aos traders do mercado financeiro, justificando, o porquê da atual depreciação cambial e dos problemas de déficit em transações correntes no balanço de pagamentos da economia brasileira[7].

Em suma, o cenário brasileiro é sim preocupante. Por diversos motivos. Compromissos fiscais externos e internos assumidos que prenunciam mais endividamento. O momento de baixo crescimento interno e desaceleração econômica internacional impossibilitando que financiemo-nos com poupança externa chinesa – por exemplo. Mas acima de tudo, preocupante, porque a equipe econômica que habita em Brasília parece perdida. Enquanto Alexandre Tombini brinca de fliperama com a política monetária do país demonstrando o total aparelhamento do Banco Central por parte do governo federal. O piloto do Boeing (ou seria Fusca?) intitulado de Ministério da Fazenda, prepotentemente, julga ser possível realizar política econômica apenas manipulando variáveis no curto prazo como se a conta não fosse chegar. Esta já deu sinais que chegará fortemente, e estes, são claros!

O governo petista julga poder romper com leis econômicas apenas com caneta e saliva e nós liberais bem sabemos (teoricamente e empiricamente) que isso é muito pouco para que um país cresça e se desenvolva de forma sustentável.

Ano que vem teremos de escolher se continuamos com esse projeto esgotado de crescimento petista ou se preferimos dar uma guinada em prol de um futuro mais austero, próspero e sustentável. Enquanto o brasileiro não perceber que o liberalismo é o único caminho para o sucesso econômico/social nós ficaremos eternamente relegados ao país do futuro que nunca chega.

Felipe Rosa é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento (PPGE&D) da UFSM. Escreve todas as quintas para o site do Clube Farroupilha.


[1] Ver Ação Humana: Um Tratado de Economia de Ludwig von Mises e Moeda Crédito Bancário e Ciclos Economicos de Jesus Huerta de Soto.

[2] O governo federal via repasses do tesouro ao BNDES transforma dívida em ativo no balanço contábil. Além disso, vem alterando recebíveis a longo prazo em receita imediata para equilibrar esse mesmo balancete do governo federal. Assim, maquia a dívida líquida ao passo que a bruta sobe constantemente. É o que alguns economistas estão denominando de “contabilidade criativa”.

[3] Recentemente o ministro Guido Mantega em evidente preocupação e descontrole gerencial fez um pedido formal ao FMI para que este não computasse na dívida bruta brasileira os títulos do tesouro em posse do Banco Central. Ver http://oglobo.globo.com/economia/mantega-pede-ao-fmi-novo-calculo-da-divida-9226664

[4] Na verdade, tal pressão inflacionária, como bem explicou Mises em 1912 na sua Teoria da Moeda e do Crédito, se deve justamente pela falta de poupança e, como a falta desta, atrelada a uma expansão monetária pressiona os preços e as taxas de juros no longo prazo para cima.

[5] É bom lembrar que cerca de 1/3 da composição desse endividamento das famílias é de cunho imobiliário, ou seja, dívidas essencialmente de longo prazo. Ver http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2013/09/endividamento-das-familias-sobe-e-atinge-marca-de-45-novo-recorde.html

[6] A trôpega indústria brasileira vem perdendo participação sistemática na composição do PIB e na criação de empregos da economia brasileira. Ver http://www.tradingeconomics.com/charts/brazil-industrial-production.png?s=bzipyoy%25

[7] O governo federal queimou mais de 40 bilhões em reservas internacionais em operações de swap cambial apenas para evitar uma depreciação maior do câmbio frente ao dólar. Ver http://mises.org.br/Article.aspx?id=1672

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