As conquistas do capitalismo e da Economia vão muito além de Coca-Cola e Facebook.
Ouço muitas pessoas nos cursos de humanas da Universidade atribuírem a este sistema praticamente tudo que possa haver de ruim no mundo, e a bizarrice disso é que elas tem muito a agradecer ao capitalismo, principalmente o fato de estarem ali.
Para que alguns possam subtrair-se do trabalho braçal e dedicar-se à atividades mais intelectuais – como pensar o mundo, a política e a sociedade – é necessário primeiramente que, de alguma forma, haja criação de riqueza excedente suficiente – além da gestão adequada desta riqueza – para manter esta camada intelectual da sociedade, que não produz nada que se enquadre na categoria de “necessidade imediata”.
De certo que, mesmo antes do capitalismo como o conhecemos hoje, havia produção intelectual no mundo, mas ela estava restrita à uma ínfima quantidade de pessoas ou encerrada nos monastérios medievais, por exemplo.
A questão é que o sistema capitalista foi responsável pela criação de riquezas numa ordem sem precedentes, sobretudo após as revoluções industriais, e é graças a isto que os ofícios dedicados ao pensar podem ser hoje ocupados, em termos de formação profissional, por uma quantidade tão grande de pessoas.
Além disso, como o próprio capitalismo sabe aproveitar potencialmente a informação que se acumula, nós, ociosos intelectualóides, podemos nos dar a este “luxo” sem morrermos de fome.
“O capitalismo alimentou seus próprios inimigos”. Não sei se o pensamento é bem esse, nem sei quem o cunhou, mas certamente não é uma conclusão exclusivamente minha. O que importa é que sem o sistema capitalista – e a gestão racional da riqueza criada por ele –, não haveria nem sequer o pensamento de esquerda como ele existe hoje, cercado de intelectuais em todos os lugares. Filhos ingratos do capitalismo e da democracia liberal é o que são. Alguns por falta de conhecimento, outros por puro mau-caráter.
Há alguns dias, numa das minhas provocações públicas numa rede social, interpelou-me uma senhora, estudante de História como eu, pregadora marxista diferentemente de mim, afirmando DETESTAR ECONOMISTAS, exatamente com estas palavras. Naquele momento preferi não ficar ressequido gastando saliva à toa, mas certamente a resposta malcriada mais adequada àquela situação seria:
— Perdão, senhora. Esqueci que você ainda vive numa sociedade de caçadores-coletores, e que seu esposo caça durante o dia para sua filha comer à noite. Pra que servem os economistas afinal?
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Vinícius Motta é graduando em História pela UFSM. Escreve todas as terças para o site do Clube Farroupilha.
As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.
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2 Comments
Vinícius Motta
Republicou isso em motocaliberale comentado:
Meu texto do dia 26/11/13 para o Clube Farroupilha.
Bruno
Parabéns Vinícius, baita texto!