Um dos maiores (entre vários) engodos acerca do verdadeiro funcionamento do capitalismo atrela a este um intrínseco e inexorável caminho em direção a crises cíclicas e sistêmicas. Tais crises – dizem os detratores – apenas concentram as rendas e geram mais injustiças.

O marxismo prega ao capitalismo uma incapacidade insuperável de evitar crises de superprodução. O keynesianismo, em síntese, afirma que os períodos de crise capitalista são compostos por quedas acentuadas da demanda efetiva e qual tal processo, quando ocorre, remete ao Estado (esse onisciente) uma intervenção anticíclica para salvar as economias da depressão que a falta de consumo acarreta (ou acarretará) nos investimentos e nos empregos. Os neoclássicos, por sua vez, atrelam ao capitalismo inerentes falhas de mercado que levam a concentração industrial e em última instância aos “temidos” monopólios. Enfim, todas essas teorias em maior grau (marxista) ou menor grau (neoclássica) delegam ao Estado o poder de estabilizar e salvar a todos nós das crises cíclicas que o capitalismo inevitavelmente gerará – dizem eles.

Na verdade nenhuma dessas teorias (diga-se de passagem, incessantemente estudadas) entendeu de fato o processo de mercado capitalista. Tampouco, perceberam quem realmente gera tais distorções, falhas e crises em nosso atual sistema econômico.

O capitalismo não é perfeito, nem nunca será! É preciso que ressaltemos isso. Quando perguntado o porquê de tais distorções e falhas no capitalismo o economista Roberto Campos sempre respondia que era porque ele se compunha por pessoas, ora bolas! Assim sendo, primeiramente devemos aceitar tais imperfeições e, posteriormente, procurar entender se realmente são nossas ações em conjunto que levam países à bancarrota e pessoas a pobreza, miséria e fome. Um exame um pouco mais crítico nos mostra que não.

A grande verdade é que o capitalismo nunca conseguiu – infelizmente – prosperar de forma dissociada do Estado. O aparato de coerção e regulação sempre esteve andando pari passu ao progresso capitalista e isso confunde muita gente (de nobres intelectuais a artistas engajados). Isso ocorre porque, como já dito, o capitalismo produziu riqueza como nunca antes visto e, evidentemente, isso atraiu governos já estabelecidos mundo afora para as benesses que só o sistema de produção capitalista pode propiciar.

Portanto, quando você leitor, ouvir falar que a quebra da bolsa de Nova York em 1929 foi uma crise cíclica do capitalismo, que as crises do petróleo de 1973 e 1979 também, que o caminho da miséria latino americana nos anos 80 e a crise de 2008 recente são frutos dos ciclos de acumulação e crise do capitalismo, pergunte-se: quem controlava (e controla) toda a emissão de moeda nessas economias nos períodos antes da crise? Questione quem compõe o cartel da OPEP responsável direta pelas crises de petróleo dos anos 70? Inquira quem inflacionou a economia brasileira jorrando, cruzeiros, cruzados e notas e mais notas pintadas com caras de presidentes e bichinhos em extinção? Se pergunte quem realizou política protecionista para salvar setores falidos e ineficientes com fortes conexões políticas? Pense em quem regula “setores estratégicos” e proíbe a entrada de novos concorrentes cartelizando mercados? Questione quem possui monopólios legais e ineficientes com a retórica de nos defender do capitalismo malvado? Raciocine sobre quem baixou os juros nominais para zero e criou subsidiárias semi-estatais que vendiam casas a preços de banana gerando bolhas imobiliárias? Perguntou-se? Pois é… ele mesmo… o Estado.

Ele está por trás de tudo isso. É o Estado que controla os juros, que tributa coercivamente, que gera demandas artificias (via gasto público), fomenta bolhas, se endivida e enche as economias com notas pintadas que servem apenas para gerar inflação e concentrar toda a renda que só o capitalismo consegue produzir.

É o Estado que leva economias e pessoas em marcha para a guerra gerando destruição, pobreza e morte (com respaldo teórico porque isso – pasmem – supostamente incentiva a demanda efetiva!). É essa a natureza e composição do Estado nas atuais economias capitalistas. Um ser orgânico, demasiadamente inchado e onipresente que em sua maioria apenas fomenta as crises, destruindo riquezas, aumentando desigualdades e propiciando a miséria. E o pior, vende-se como um ente salvador do capitalismo. Que o controla perfeitamente e atua redistribuindo a sua riqueza na promoção de arrefecimento das desigualdades sociais (seja lá o que for isso).

Logo – prezado leitor – quando você ouvir/ler que o capitalismo é explorador e que suas crises cíclicas são inevitáveis se questione sobre o que está a sua volta. Você verá que existe pouco capitalismo e muito Estado. Você inevitavelmente perceberá quem realmente fomenta a maioria das mazelas ao nosso redor e não as corrige. E você impreterivelmente desejará menos Estado e mais mercado (mesmo com todas as suas imperfeições).

O capitalismo não gera crises sistêmicas. Quem faz isso são os governos! É preciso que desmistifiquemos essa falácia tão propagada na academia e na sociedade como um todo. É preciso que saibamos respeitar e entender o que de fato nos propicia o atual padrão de vida que desfrutamos, entendendo suas limitações distributivas, mas lutando para que o capitalismo progrida para toda a sociedade trazendo riqueza e prosperidade. E isso só é possível com menos Estado e mais mercado. Enquanto a sociedade não entender isso nós teremos um longo caminho a percorrer em prol da diminuição da miséria e da pobreza. Deixem o capitalismo em paz!

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Felipe Rosa é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento (PPGE&D) da UFSM. Escreve as quintas-feiras para o site do Clube Farroupilha.

As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.

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