A ideia dessa série chamada “Revoluções e liberdade econômica”, que será divida em quatro textos, é mostrar que mudanças radicias no sistema político e econômico podem ser profundamente danosas para a sociedade, uma vez que tais mudanças acabam por reduzir ou até mesmo extinguir a liberdade econômica de um país inteiro.
Diferente de Portugal e Espanha, a Inglaterra demorou a entrar na Era das Grandes Navegações. Sofrendo com guerras internas e com outras nações europeias, a coroa inglesa não conseguiu dar muita atenção aos seus domínios além-mar. Assim, diferente das colônias espanholas e portuguesas na América, as colônias inglesas não sofreram tanta intervenção de sua metrópole no campo político e econômico.
Devido a essa falta de regulação, as atividades comerciais nas Treze Colônias eram bastante intensas. Enquanto no norte a produção era voltada para o mercado interno, no sul predominava a produção para o mercado externo. Uma famosa rota comercial que hoje recebe o nome de “Comércio Triangular” passou a unir as colônias inglesas da América, as Antilhas, a Europa e a África.
O crescimento do comércio veio junto com o da agricultura, que era a atividade mais importante na colônia. Através dela, os colonos produziam tabaco, milho, algodão, rum, frutas e etc. que eram exportados para a Europa, África e Caribe. Dessa forma, para poder exportar essas commodities era necessário construir cada vez mais embarcações, o que levou a um grande crescimento do setor de construção naval.
Num ambiente econômico tão livre, as chances de enriquecer e de começar uma vida nova eram muito maiores. Inúmeros europeus foram atraídos para as colônias inglesas. Trabalhando nas plantações, no comércio, no setor de serviços, ou até mesmo nas manufaturas que começavam a surgir, esses colonos encontraram o emprego e a liberdade que não possuíam em seus países de origem.
Segundo John J. McCusker, professor de História Americana e Economia na Trinity University, a economia das Treze Colônias cresceu tão rápido quanto a dos países então existentes na época. Dessa forma, os colonos puderam desfrutar de uma qualidade de vida invejável, em relação aos demais países do mundo. Ainda segundo McCusker, até mesmo os colonos mais pobres tiveram um grande avanço em sua qualidade de vida.
Por mais que existisse o que Edmund Burke chama de “negligência salutar” por parte dos funcionários da Coroa inglesa nas colônias, existiam leis que regulavam o comércio (Atos de Navegação), mas que não eram seguidas a rigor. O contrabando, portanto, era uma prática bastante comum e os fiscais aduaneiros eram constantemente subornados. Os comerciantes presos muitas vezes eram absolvidos pelos juízes das colônias, uma vez que estes eram simpáticos ao livre comércio.
Até mesmo durante a Guerra dos Sete Anos (1756 – 1763), quando colonos ingleses lutaram juntos ao exército de sua metrópole contra as tropas francesas, o comércio com o inimigo era uma prática bastante comum. As Antilhas Francesas eram destino de navios abarrotados de alimentos vindos dos portos de Nova York e Filadélfia. Essas trocas eram feitas através do uso de bandeiras de trégua, que se tornaram comuns no mercado de Nova York. Com o fim do conflito, a Inglaterra estava endividada. O então Primeiro-Ministro George Grenville tratou de aperfeiçoar o sistema de arrecadação de impostos das colônias, com o objetivo de controlar as atividades comercias nas colônias e repor as perdas impostas pela guerra com a França.
As alfândegas inglesas passaram a ser mais eficientes com o envio de funcionários do próprio governo para ocupar cargos que antes eram exercidos por “pessoas de confiança”. Várias leis foram criadas, tais como: Lei do Açúcar, Lei do Selo, Lei da Moeda, Lei da Hospedagem e etc. Essas leis acabaram por aumentar os impostos, assim como as restrições às atividades comerciais.
As tensões entre os colonos e a coroa inglesa só aumentaram, uma vez que a liberdade dos primeiros estava sendo reduzida pela segunda, cada vez mais. Após o episódio conhecido como a Festa do Chá de Boston (1773), a repressão se tornou cada vez mais dura, levando os colonos a lutarem por independência. O conflito durou de 1775 até 1783, com a vitória dos colonos.
Conclusão
Vale lembrar que guerras, em termos econômicos, nunca são boas para nenhum dos lados. Ambos saem com suas economias abaladas, uma vez que as mesmas são obrigadas a passar por um esforço de guerra, sem falar nas dívidas que são geradas para custear os gastos militares. Com as Treze Colônias não foi diferente.
O sistema monetário passou a ficar nas mãos dos revolucionários que, após o Segundo Congresso Continental (1775), criaram uma nova moeda: o Continental. Para custear seus gastos, o governo revolucionário passou a imprimir papel moeda, fazendo com que a inflação aumentasse assustadoramente. Tamanha foi a criação de dinheiro que o preço das commodities, em 1777, já havia subido 480%.
Na Pensilvânia, o controle de preços chegou a ser adotado para tentar contornar a escalada dos preços de produtos básicos. Tal fato fez com que o preço dos importados subisse em relação ao dos nacionais. Os agricultores, que não concordavam com o congelamento, pararam de vender seus produtos no mercado interno e passaram a exportar os mesmos para a Inglaterra em troca de ouro (sempre um bom porto seguro). A escassez se tornou tão grande que até mesmo o exército de George Washington passou a sofrer com a falta de produtos básicos, como calçados e comida. Uma nova moeda foi criada para reverter os efeitos das políticas dos governos. Cunhada em prata, ela recebeu o nome o de dólar espanhol e o congelamento de preços foi revogado, em 1778.
No final, a Revolução Americana acabou por triplicar a carga tributária que antes era imposta. Portanto, creio que o leitor pode fazer uma reflexão. O que é melhor: ser dominado e pagar impostos mais baixos, ou ter autonomia pagando impostos mais altos? Vale ressaltar que a liberdade nas Treze Colônias, por mais que tenha sido reduzida durante o período pré-revolucionário ainda era invejável em comparação a até mesmo nações europeias da época.
Mateus Maciel é estudante da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. É membro fundador do Grupo Frédéric Bastiat (EPL-UERJ), e escreve todos as segundas para o site do Clube Farroupilha.
As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.
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