“Só queríamos ser livres”

A situação da Síria, país do Oriente Médio que faz fronteira com Turquia, Iraque, Israel, Jordânia e Líbano, vem chocando o mundo. A guerra civil que se instalou no país desde 2011, de acordo com a ONU, já levou cerca de 400 mil pessoas à morte e obrigou mais de 4,8 milhões de pessoas a fugirem de suas casas. Outras terríveis estimativas feitas pela organização são de que 70% da população do país não tem acesso à água potável e de que uma em cada três pessoas não consegue satisfazer as necessidades alimentares básicas.

Todo o conflito teve inicio com a insatisfação massiva da população em relação ao governo do tirano Bashar al-Assad. As reclamações mais frequentes eram em relação alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão das liberdades individuais – repressão esta que foi corroborada após o governo prender e torturar adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola da cidade de Deraa.

Após o ocorrido, uma série de protestos reivindicando mais liberdade tomou conta do país, inspirados pela Primavera Árabe. Entretanto, a resposta do governo frente a esses protestos foi de extrema retaliação, quando as forças de segurança abriram fogo matando vários manifestantes. A indignação da população frente a tentativa do governo de sufocar as divergências fez com que milhares de pessoas fossem às ruas exigindo a saída de al-Assad.

A sequência de manifestações e respostas cada vez mais agressivas por parte do governo foi o que iniciou a guerra civil que vemos hoje. Simpatizantes do movimento antigoverno não viram outra opção senão pegar em armas, primeiramente para se proteger e posteriormente, para expulsar as forças nacionais de segurança de suas regiões.

Foi em 2012 que o conflito chegou às cidades de Damasco e Aleppo – uma das mais prejudicadas no momento. O conflito cresceu de tal maneira que tomou traços de uma guerra sectária. Grupos e milícias de diferentes vertentes do islamismo se organizaram e adentraram o conflito, trazendo também potências regionais e mundiais para defender, cada um, seus interesses.

Atualmente, os protagonistas da guerra síria são: Uma oposição moderada secular, que hoje está em menor número; grupos radicais e jihadistas (entre eles o ISIS e a Al-Qaeda) que pretendem instituir um Estado Islâmico; o Exército Curdo (grupo antijihadista, formado em sua maioria por mulheres e apoiado pelos EUA); e, logicamente, o Governo Sírio, liderado pelo Ditador Bashar al-Assad e apoiado pela Rússia e pelo Irã.

O envolvimento de potências econômicas internacionais levou o conflito para outro patamar, com o apoio militar, político e financeiro para ambos os lados. Uma guerra por liberdade transformou-se em um conflito de poder. A Russia apoia o regime atual devido aos seus interesses políticos na região; o Irã apoia al-Assad por este ser xiita e haver uma convergência de interesses, visto que a Síria é a principal rota utilizada pelo Irã para enviar armamentos ao grupo xiita Hezbollah, do Líbano. Enquanto isso, a Arábia Saudita apoia os rebeldes por conta da rivalidade política, econômica e religiosa com o Irã; além dos EUA e Turquia que, também guiados por interesses particulares, tem auxiliado os rebeldes no combate ao ISIS.

Após concluir que, para pôr fim ao conflito que já dura 5 anos, a única solução possível seria por vias diplomáticas, a ONU vem tentando, desde 2012, propor negociações de paz. Infelizmente, sem sucesso. Ainda essa semana o governo Sírio declarou nova ofensiva à cidade de Aleppo, que vem sendo alvo de intensos bombardeios.

É importante ressaltar que quem mais sofre com toda essa situação é a comunidade civil. Antes reprimida por um governo ditatorial e agora presa em um fogo cruzado entre potências bélicas guiadas por interesses imperialistas, a população síria se vê sem esperança. Liberdade, um direito tão natural quanto a vida, infelizmente, ao longo da história, sempre precisou ser conquistada. Basta olhar para trás e ver que a independência sempre foi conquistada à duras penas e que a luta sempre partiu do povo unido contra a exploração de um poder centralizado.

O povo sírio ainda há de ver os frutos da sua luta florescerem, em um futuro não muito distante, esperamos.

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