A esquerda progressista brasileira possui uma capacidade ímpar de inventar supostas “lutas” e divulgá-las nos meios de comunicação como se as suas pautas fossem, de fato, relevantes para a população geral do país – e que, claro, já não houvesse um consenso sobre o tema.
Especialmente nos últimos anos, isso tem estado em evidência – muito por conta das redes sociais. Para a “Esquerda-Quebrando-o-Tabu” tudo é polêmico, tudo é “construção social” e todos os “paradigmas” devem ser quebrados, mesmo que apenas meia dúzia de gatos pingados – em geral aqueles que vivem na bolha do discurso acadêmico elitista – concordem com tal visão.
Da “polêmica” da apropriação cultural até a remoção dos pichos em São Paulo. Para eles a sociedade está dividida, criou-se uma luta de classes entre cada opinião existente sobre política, economia, educação, saúde, corrupção, religião e etc.
No entanto, isso nunca existiu, isso não existe. Basta sair das Rodas de Conversa™ da universidade federal e verá que entre a esmagadora maioria da população – aquela que está muito ocupada preocupando-se em colocar comida na mesa – há um consenso silencioso de que esse alarmismo pós-moderno é apenas coisa de estudante desocupado. Por isso, vou discorrer apenas sobre dois pontos que estão em pauta mais recentemente: picho e apropriação cultural.
Todo mundo tem certeza que é crime, todo mundo concorda que é feio, todo mundo quer ver a atitude reprimida, todo mundo quer respeito a sua propriedade. Quem pensa diferente disso é o estudante de direito que tem a mentalidade tão retrógrada que acha que, em pleno 2017, alguém a margem da sociedade não tem Facebook para se manifestar, mas tem dinheiro para comprar tinta spray e sujar a propriedade alheia. Amigos, isso não é uma polêmica, é um consenso que ninguém gosta de ver a cidade – especialmente a sua casa – deteriorada.
Cria-se, através de opinião de “especialistas” que, sabe-se lá como, conseguem espaço de fala nos maiores canais de comunicação do país (e ainda há quem diga que a mídia é de direita, vai entender) uma falsa impressão de que de fato a sociedade está em dúvida se a vontade de alguém que passa pela sua rua e escreve na sua parede deve prevalecer sobre a opinião do proprietário de como o seu imóvel deve ser preservado, uma vez que é ele que paga pela conservação do mesmo. É sério que há alguém que realmente acha que temos dúvida quanto a isso?
Como eu já havia dito em um artigo anterior meu, se a propriedade pode sofrer esse tipo de interferência por qualquer outra pessoa que não seja detentora dela, o que me impede, moralmente, de riscar um carro na rua, colar chiclete no cabelo ou rasgar um pedaço da roupa de alguém se a propriedade é relativa? Pois bem, se pode-se defender o picho sob esta ótica, deve-se defender então todas as intervenções em propriedade (fico até com medo de falar isso, porque na cabeça de muitas pessoas isso pode começar a fazer sentido).
Não vivemos, por exemplo, sob a mão do estado comunista como antes da queda do muro de Berlim, onde o picho era utilizado como um método de comunicação e transmissão de ideias, estamos no século XXI, dispomos de todo arsenal gratuito na internet para comunicar as nossas ideias sem interferir na liberdade alheia. Não precisamos nos esconder por buracos e ruelas tentando passar mensagens, somos munidos de ferramentas totalmente gratuitas, como o Facebook e este blog, que me permitem comunicar o que quer que eu pense sem nunca, em momento algum, tolher a liberdade alheia. E todos sabemos disso, do seu primo de 8 anos até o seu avô. E não há qualquer divisão ou discordância sobre esse tema. O picho é vandalismo, é desrespeito a propriedade e deve ser combatido.
Sim, parece estúpido ter que explicar isso, mas pelo que pudemos acompanhar na última semana ainda há quem pense que há um embate ideológico sobre o que as pessoas podem vestir. Não há. 99% das pessoas do mundo não se importam de alguém usar um turbante, lenço na cabeça, ter o cabelo liso ou crespo e etc. Não há sequer porque discutir isso. Alguns movimentos de esquerda conseguem, através da histeria disfarçada de luta pelo bem comum, propagar temas como esse como se de fato a sociedade estivesse com a opinião dividida. Senhores, nós não estamos com a opinião dividida, você que está com a cabeça bitolada de tanto ficar procurando problematização onde não existe.
Quando uma pessoa com câncer põe um lenço na cabeça e sai à rua, ela não está incorporando uma cultura, ela está se estilizando, se vestindo, sem objetivar em momento algum ofender outra cultura. Assim como você, hippie de esquerda, se estiliza apropriando-se culturalmente da cultura hasta ao sair na rua com roupas floridas, calças largas de tecido fino e sandálias feitas de cipó sem nunca antes ter vivido na Jamaica durante o início do movimento hasta.
Felippe Hermes, do Spotiniks, foi perfeito na sua colocação para explicar porque a ideia de apropriação cultural é infundada:
“Você esta utilizando um idioma europeu fruto de séculos de evolução de um outro idioma e alfabetos latinos que remontam a um império que morreu há mais de 1500 anos, escrevendo em um computador desenvolvido e popularizado em outros países, tornado possível por uma cultura de consumo de massa que você provavelmente despreza, usando uma rede social desenvolvida por um americano que programou ela usando técnicas desenvolvidas ao longo de décadas que tomaram como base um padrão numérico com pelo menos 1000 anos de existência, para reclamar que alguém está se apropriando de uma cultura que não é sua.”
O Brasileiro sempre foi louvado pelo seu multiculturalismo, pela sua capacidade de reunir todos os povos em paz no seu território e pela troca constante entre os diferentes estados e diferentes culturas. Nós somos o país dos imigrantes italianos que comem feijoada de origem escrava, dos negros que comem cuca e salame, trazida por italianos e alemães, do gaúcho que se muda pra Bahia, do Baiano que usa bombacha e toma chimarrão porque encontrou o seu amor no sul, do playboy que sobe o morro pra ir pro baile funk e do funkeiro que desce o mesmo morro porque também quer morar em Copacabana, da menina de origem indígena que se forma em medicina no sistema de ensino dos brancos, do paulista nascido na capital que se muda pro interior. Tudo isso é cultura, tudo isso é legítimo e, incentivar ou pregar qualquer divisão ou exclusividade de traços culturais entre povos, é querer se tornar o Hitler do século XXI. E é isso que a esquerda faz quando segrega e prega esse discurso.
Ninguém sai de casa usando um turbante pensando em acabar com a cultura oriental.
Ninguém come feijoada esperando descaracterizar a história do povo negro.
Nenhum branco casa com um negro pra higienizar a sociedade e destruir a raça.
Conclusão:
É complexo entender como um movimento que surge nas redes sociais, formado por meia dúzia de militantes culpados da classe média sedentos por uma causa para lutar e “compensar” pelos próprios privilégios, consegue chegar na grande mídia e ganhar força através da divulgação desse pensamento e da opinião de pessoas influentes. Mas não é nada complexo entender que é um movimento falso, calcado apenas no alarmismo e na gritaria e que, as pessoas normais que trabalham, que vivem e não estão brincando de justiceiros sociais com a vida dos outros, estão pouco se lixando para esses temas. Não por não pensarem, por não terem senso crítico, mas porque querem ter o direito de ter as suas escolhas respeitadas, seja desde o modo de se vestir até o de ter a parede da sua casa intacta.
Eduquem-se a si mesmos no amor à liberdade alheia. – Joaquim Nabuco
Autor: Fabrício Sanfelice, graduado em Direito pela Unifra, empreendedor e membro-fundador do Clube Farroupilha.
Os artigos publicados no blog do Clube Farroupilha representam única e exclusivamente a opinião de seus autores.