Imagine um homem que durante toda a sua vida nunca acessou a internet. Na verdade, ele jamais poderia ter um computador, uma televisão, uma lâmina de barbear, uma caneta, um rádio ou um desodorante. Diferentemente de milhões de famílias nos dias de hoje, ele não tinha nem um ar-condicionado nem um telefone fixo, e tampouco poderia sair com seus filhos para ir a um parque de diversões, olhar um filme no cinema ou simplesmente comer no Subway. O sujeito não podia andar de avião, dirigir um carro, usufruir da energia elétrica ou usar um celular para ligar para seus amigos e parentes. Qualquer doença que ele tivesse, era tratado com medicamentos considerados extremamente antiquados e ineficazes. Quem é essa pessoa?
Trata-se do banqueiro alemão Nathan Rothschild. Em 1836, com um patrimônio equivalente a 0,62% de toda a renda nacional da Inglaterra, controlando bancos de investimento em toda a Europa e usufruindo de uma grande proximidade com a nobreza e os poderosos, Nathan era o homem mais rico do mundo. Ele teve uma vida inteira dedicada ao trabalho, e gozava de boa saúde. Porém, aos 59 anos de idade, ele foi acometido por um furúnculo em suas costas. Apesar de dispor dos melhores e mais qualificados médicos do planeta e todo o dinheiro necessário para pagá-los, a tragédia não pode ser evitada. As bactérias do furúnculo se espalharam para a corrente sanguínea, e Rothschild faleceu rapidamente. Hoje em dia, um simples antibiótico encontrável em qualquer farmácia é capaz de impedir a doença que o levou ao óbito.
Você aceitaria ganhar a fortuna daquele que era o homem mais rico do mundo – equivalente a dezenas de bilhões de dólares nos dias de hoje – se nunca mais pudesse usufruir de qualquer tecnologia surgida no século 20 ou 21? Valeria a pena receber a riqueza de Nathan, se nunca mais fosse possível usar celulares, carros, computadores, televisões, aviões, ventiladores, micro-ondas, fogões, geladeiras, elevadores, freezers e a maioria dos medicamentos e vacinas existentes? Essa proposta seria aceitável, mesmo que nunca mais pudéssemos correr ouvindo música nos fones de ouvido, fazer um exame de raios-X para identificar fraturas ósseas ou aumentar a temperatura do ar-condicionado nas noites frias do inverno? Lembrando que não se poderia usufruir nem mesmo de coisas comuns e banais como papel higiênico, secador de cabelo, bicicleta, zíper e pasta de dente, e ainda haveria o risco de morrer a qualquer momento por qualquer doença facilmente curável no século 21.
É bem possível que a maioria das pessoas pense que não vale a pena fazer essa troca. De que serviria ter tanto dinheiro, se o mesmo não serviria para comprar bens extremamente simples e presentes na maioria das casas nos dias de hoje, os quais tornam nossas vidas melhores e mais confortáveis? Só que isso leva a uma pergunta interessante. Se acharmos preferível termos o poder aquisitivo e a qualidade de vida de um cidadão da classe média do século 21 do que o de Rothschild, isso significa que, subjetivamente falando, nós somos mais ricos do que o homem mais rico da família mais rica da história? De certa maneira, sim. E não apenas ele, mas qualquer outro que teve fortuna e viveu antes do século 20, seja um magnata, rei ou nobre. Mas como é possível que isso tenha acontecido?
Muitas pessoas subestimam os progressos que a humanidade conquistou nos últimos dois séculos. Elas pensam nas guerras, doenças, tragédias, penúrias e demais mazelas que afligem o mundo, e acabam decepcionadas com o rumo tomado pela nossa civilização. Só que a verdade é que, embora ainda haja muitas coisas para serem corrigidas, nós vivemos em uma época incomparavelmente melhor do que aquela anterior à Revolução Industrial. Hoje usufruímos de um mundo globalizado com uma abundância de bens e serviços. Mas nem sempre foi assim.
O cidadão comum do século 18, em qualquer lugar do mundo, vivia no campo e era miserável e subnutrido. Suas refeições consistiam basicamente de grãos e água suja. Morava em um casebre imundo, e tinha que dividir uma única cama com o resto da família. Trabalhava incessantemente na agricultura, mas sua produtividade era baixíssima, porque tinha poucas ferramentas. Suas condições de saúde e higiene eram péssimas. Passava a vida inteira sem ir mais longe do que alguns quilômetros de sua casa. Tinha pouquíssimas peças de roupa, já que elas eram muito caras. A mortalidade infantil era altíssima, e quem chegava à idade adulta morria por causa das pestes, da fome ou das guerras. A expectativa de vida, inclusive, era de 25 anos.
Mas então, repentinamente, ocorreu uma transformação que mudou o mundo para sempre: a ascensão do capitalismo moderno. Durante milênios, não havia as condições básicas para o desenvolvimento econômico, como a firme garantia dos direitos de propriedade, a liberdade comercial ou o livre pensamento científico. Apenas quando essas condições foram asseguradas, primeiro na Inglaterra, depois em demais regiões, que o mundo pode começar a evoluir.
A liberação das energias individuais e a liberdade para empreender, acumular capital, trabalhar, comercializar, investir e inovar resultou em um rápido crescimento, criação de tecnologias e aumento da produtividade e da qualidade de vida. Isso pode ser atestado comparando-se os indicadores daquela época com os de hoje: a expectativa de vida subiu de 25 para 66 anos, o PIB per capita mundial evoluiu de aproximados 600 para 10 mil dólares, a população aumentou de um para sete bilhões de habitantes e a porcentagem de pessoas vivendo na miséria decaiu de 90% para menos de 10% da população do planeta. E ainda que apenas alguns países adotaram os princípios da liberdade e do livre-mercado. Mas mesmo aqueles que seguiram o caminho do intervencionismo estatal ou do socialismo também foram beneficiados, ainda que não tão potencialmente, pelas inovações e tecnologias desenvolvidas em outros lugares.
O capitalismo moderno tem características que explicam porque o homem médio do século 21 vive melhor do que um milionário no século 19. O contínuo aumento da produtividade torna os bens e serviços continuamente mais baratos, fazendo com que o que no passado já foi um luxo das elites – como ter várias mudas de roupa, comer carne ou olhar televisão – se tornem coisas acessíveis para a maioria. A produção é em massa e voltada para as massas, visando conquistar o maior número possível de consumidores, enquanto que na era pré-industrial a maioria das manufaturas eram feitas apenas para os nobres e os poderosos. E, por fim, a liberdade empresarial possibilita que a todo o momento surjam novas invenções e criações. E é por essas e outras razões que um cidadão comum, hoje, desfruta do uso de produtos cuja existência Rothschild e outros milionários jamais poderiam sequer ter imaginado. Não obstante o pessimismo de certas pessoas, desde a Revolução Industrial a humanidade ficou maior, mais rica e mais saudável, e continuará assim se continuarmos com o capitalismo – de preferência, com um governo pequeno que deixe os seus cidadãos em paz.