Venezuela: do topo ao caos

O momento de ouro

Sim, a Venezuela já foi um berço da prosperidade. Após a descoberta do petróleo no início do século XX, aquela que outrora foi uma terra de reflexos coloniais com práticas político-econômicas baseadas em uma aristocracia agrícola extremamente primitiva, havia, então, sido substituída por um novo modelo econômico, liderado pela classe industrial e que buscou abrir os mercados aos investimentos estrangeiros.

Apesar da forte repressão política na época com Juan Gómez e Marcos Jiménez, o advento de algumas políticas liberais, como a permissão da exploração nacional e internacional dos depósitos, além de um sistema imigratório atrativo, trouxe ao país tempos de prosperidade e com um crescimento invejável, alçou voo e se transformou no 4º maior PIB per capita do mundo.

 

Origens socialistas

À partir de 1958, a volta de democracia trouxe ânimo a muitos, entretanto o projeto estava fadado ao fracasso desde o início. Rómulo Betancourt foi quem obteve a glória entre os venezuelanos e tornou-se o primeiro presidente da fase democrática do país. Entretanto, o novo presidente, um ex-marxista autodeclarado, não trazia grandes enlaces com princípios de liberdade. Intervencionista, teve em seu governo: a desvalorização da moeda, aumento das invasões em propriedade privadas e a triplicação de impostos.

Usando a premissa de um combustível barato e serviços públicos gratuitos e de qualidade, Betancourt trouxe à tona a nacionalização do petróleo e uso de “aluguéis” de seus poços petrolíferos para manutenção dos serviços providos pelo Estado. Contudo, não obteve êxito em seu projeto.

Mais tarde, em 1975, em meio ao boom do petróleo, o qual acendeu os ânimos do governo intervencionista de Carlos Pérez, a nacionalização do setor petrolífero foi realizada. Políticos e burocratas comemoraram com inúmeras obras faraônicas e privilégios. A curto prazo, a população venezuelana aplaudiu o modelo ao ver alguns serviços prestados a eles, sem perceber então, que estavam se tornando escravos do governo.

 

Primeiras crises

Ao início dos anos 80 uma grande crise abateu a Venezuela, Luis Campins, sucessor de Pérez, concluiu que os gastos ilimitados do governo anterior eram insustentáveis, entretanto, não teve a responsabilidade de fazer mudanças significativas no sistema. Seu governo, então, sofreu com uma das maiores desvalorizações da moeda na história. Sua solução? Mais intervencionismo. Campins criou o Régimen de Cambio Diferencial (RECADI), cuja função era de cambio diferencial e controle de capital, nada mais que um sistema para conter a fuga dos capitais.

Ao meio de escândalos de corrupção, desvalorizações subsequentes, políticas fiscais irresponsáveis e muita intervenção do Estado na economia, a Venezuela teve a década de 80 como um sinônimo de fracasso.

De volta ao poder com a Venezuela à beira da falência, Carlos Pérez executou uma tentativa de reformar o modelo, que no fim só levou ao aumento de impostos, privatizações malfeitas e uma falsa aparência de significativos cortes de gastos. Seu único feito, que realmente seria grandioso ao país, foi o corte dos subsídios ao gás, o qual foi, mais tarde, utilizado pelo próprio partido (Acción Democrática) contra Pérez. Era a a famosa ferramenta da esquerda , onde cria-se relevância a projetos “contra o povo”, e infelizmente, funcionou.

 

Hugo Chávez

Grandes protestos encheram as ruas venezuelanas contra o governo de Pérez, alguns até famosos, como é o caso de “Caracaço” que ocorreu em 1989, no qual em resposta aos tumultos, saques e protestos, o governo reagiu com grande violência, deixando o rastro de sangue e morte em seu trabalho.

Como resposta ao terremoto que atingia o cenário politico nacional, alguns grupos radicais emergiram, como é o caso do Movimento Bolivariano Revolucionário 200, de Hugo Chávez, que consolidou um movimento antigoverno dentro do próprio exército venezuelano, levando até a uma tentativa de golpe em 1992.

Com todo esse tumulto, Chávez iniciou seu processo de explorar as classes mais sensíveis do país a fim de usá-los a favor de sua proposta socialista. Seu arsenal para conquistar a população ia desde criticar a estagnação econômica do país, à mostrar-se como uma nova opção frente aos partidos tradicionais que estavam em escândalos de corrupção.

 

O desastre Chavista 

Tanto criticou os antigos governantes, mas ao tomar posse, manteve os padrões, com um requinte de tirania. Controle de câmbio, expropriações, controle de preços, uso de petrolífera estatal e muitos outros meios eram utilizados para financiamento dos serviços do Estado. Instituições esvaziadas, imprensa suprimida e políticos contrários ameaçados.

No âmbito da economia, as práticas intervencionistas para suprimirem o desejo do governo foram incontáveis, como, por exemplo: diversas elevações do preço do petróleo, que no fim só resultaram em queda no valor do produto e à queda da economia, que respirava por meio de aparelhos.

 

Maduro, o ditador 

Com a morte de Hugo Chávez em 2013, a tirania e o modelo socialista de governar não parou. Muito pelo contrário, o modelo foi impulsionado pelo então novo presidente Nicolás Maduro  que foi, diga-se de passagem, apoiado na primeira eleição pelo ex-presidente Lula e recentemente pela atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Desde a primeira vitória de Maduro, o processo eleitoral venezuelano foi posto em cheque, visto que, a diferença de votos foi extremamente pequena e a popularidade do regime se encontrava em total decadência. Atento ao fato de que, também, existiram denúncias na época de que gangues armadas formadas por civis simpatizantes do regime chavista intimidaram os eleitores.

Após dois anos, em 2015, a oposição obteve uma vitória imensa ao conquistar assentos suficientes no congresso venezuelano para lutar contra o regime vigente. Entretanto, o presidente fez uso de uma prática já consolidada em falsas democracias, ignorou todas as leis do legislativo e passou a movimentar o governo via decretos. Ditatorialmente, Maduro também cancelou as eleições municipais e de governadores, que ocorreriam nos dois anos seguintes.

Ao ler todo esse caos completo de tirania, a partir de movimentos da oposição, a sociedade civil venezuelana realizou uma onda de protestos contra o regime. Como resposta a tudo isso, a polícia do governo lesou e assassinou diversos cidadãos, entre eles, Óscar Perez, ativista político de destaque na época. Enquanto tudo isso acontecia, o presidente armava mais uma proteção ao regime, anunciou uma Assembleia Constituinte e nomeou por via indireta 1/3 do congresso e criou meios visivelmente manipulados para obter a vitória chavista “legitimada” nas próximas eleições.

A linha do tempo se manteve conturbada e em 2017, trocando o poder do congresso pela suprema cote, a Venezuela se transformou em uma autocracia. Já em 2018, houve a reeleição de Maduro, diversas fraudes, boicote total à oposição e uma abstenção altíssima, sendo então, contestada por diversos países do mundo.

 

E Guaidó? 

Após a polêmica eleição de 2018, os problemas só agravaram na Venezuela. Inflação de múltiplos dígitos, êxodo das indústrias do país, mercados com falta quase total de suprimentos, moeda totalmente desvalorizada e a população passando fome. Em meio a isso, aparece um suposto salvador da pátria, Juan Guaidó.

O líder da oposição na Venezuela, já foi reconhecido como presidente por diversos países, entretanto suas ações sem planejamento e totalmente desarticuladas estão virando sinônimo de fracasso. Aliás, a decepção vai além, Guaidó não tem nada de radical nos movimentos de mudança, é mais um apoiador de políticas econômicas keynesianas para recuperação do Estado com diversas promessas, algumas possíveis melhoras a curto prazo, mas um futuro lamentavelmente incerto. Um país totalmente “adoecido”, como a Venezuela, necessita uma mudança radical, para rumos de democracia e liberdade, ou então o prognóstico continuará sombrio.

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